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Imagem retirada de http://www.flickr.com/photos/amigosdosacores/ |
Há quantos anos estás aí, na eira
ou no telhado, esgadanhando
o pão difícil sol a sol,
aceitando as migalhas do nosso
coração,
compartilhando entre a poeira
a cama da nossa obscura condição;
irmão libidinoso e romano
pássaro de Catulo; sempre
à nossa roda, mais verdade poética
que criatura natural, como um poeta
americano disse do pardal.
Hoje é um português nada orgulhoso
de o ser que te abre as portas
do poema e te convida a entrar,
pois não fizeste do teu canto um
luxo
nem traficaste com o bem comum –
por isso como os garotos da rua
descobres o gosto da vida
até num charco de água turva.
In «Com o
sol em cada sílaba» (poesia), de Eugénio de Andrade (com uma fotografia do autor por Dario Gonçalves),
colecção «Pequeno Formato» (n.º 5), Edições
ASA, Porto, Abril de 2002 (3.ª edição).
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