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domingo, 7 de julho de 2013

«PODE ESCREVER-SE UM POEMA ASSIM: pensando», de Manuel Alegre

Foto retirada de http://www.foxsports.com.br

PODE ESCREVER-SE UM POEMA ASSIM: pensando
no infante D. Pedro em Penacova. Ou na solidão
do marcador de penalti diante do guarda-redes.
Para a esquerda ou para a direita. Eis a questão.

O medo de falhar. Ou a hesitação
do Infante. Não importa. O que importa é o instante
o momento em que se decide para onde rematar
a solidão do jogador na marca do penalti

a hesitação do Infante no alto de Penacova.
O poema inscreve-se nessa pequena fracção de tempo
um remate que pode mudar o jogo. Uma renúncia
que muda (ao contrário) a vida. É nessa eternidade

nessa ínfima medida de tempo que se pode
ou não escrever o poema. Falhar ou acertar
em cheio na palavra e no destino. E
não hesitar. Não hesitar nunca em Penacova.

In «Sete partidas», poema de Manuel Alegre, colecção «Mil Horas de Leitura (n.º 4), Edições Nelson de Matos, Lisboa, Julho de 2008 (2.ª edição) 

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