Páginas

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

LÍNGUA PORTUGUESA (sítios a consultar)

Imagem encontrada em http://belicosa.com.br/para-que-serve-a-lingua-portuguesa/




















Portal da Língua Portuguesa:

Observatório da Língua Portuguesa

Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Dicionário «on-line» da Língua Portuguesa

Dicionário Priberam

Linguee (frases traduzidas)

Instituto Camões

CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

Instituto Internacional da Língua Portuguesa

Museu da Língua Portuguesa

POIESIS - Instituto de Apoio à Cultura, à Língua e à Literatura

Portal da Lusofonia

E-Dicionário de Termos Literários

Conjugador de verbos

Redigir com clareza

terça-feira, 2 de setembro de 2014

[chegado neste momento da tipografia, sensível e frágil como um doente que acabasse de sair duma sala de operações], registo diarístico de Miguel Torga

Imagem encontrada em http://www.tireiumafoto.com/

Coimbra, 14 de Março de 1955 – Mais um livro. Aqui o tenho em frente, chegado neste momento da tipografia, sensível e frágil como um doente que acabasse de sair duma sala de operações. Pego-lhe, e todo ele se dói, hesitante na frescura da tinta, na inconsistência do grude, na virgindade do conteúdo. E, não sei porquê, a insegurança que lhe vejo contagia-me, agrava-me as dúvidas, cria o pânico no meu espírito. Mal preservado nas suas páginas, prestes a ser escancarado na praça pública, sinto-me aterrado e vulnerável também. Bate um amigo à porta, e escondo-o apavorado. Só amanhã, quando estiverem prontos alguns centos de exemplares, ganharei coragem para o mostrar. A quantidade poderá de certa maneira proteger-me. Será um exército da mesma debilidade a defender o autor.  

In «Diário (7.º volume)», de Miguel Torga, edição de autor, Coimbra, Abril de 1983 (3.ª edição, revista).

[Não ler, nem escrever, nem pensar], registo diarístico de Miguel Torga

Fotografia encontrada em http://asnotasparaomeudiario.blogspot.pt/
S. Martinho de Anta, 5 de Abril de 1955 – Férias. Quatro dias inúteis, vazios, opacos, em banho-maria, que eu precisava que fossem quatro anos. Só assim me seria possível descansar verdadeiramente, relaxar o corpo e o espírito, anquilosados já numa postura contrafeita, torcida, de mola em tensão. Não ler, nem escrever, nem pensar, nem amar, nem sofrer, nem sentir, sequer. Estar assim deitado como estou em cima duma fraga, estúpido como ela e amorfo como ela. Mas com este maldito livro de notas a cem quilómetros de mim! Este terrível livro de folhas brancas, sempre disponíveis e ávidas como sanguessugas, à espera que eu as intumesça duma tinta que já não sei se me corre da pena, se das veias.  

In «Diário (7.º volume)», de Miguel Torga, edição de autor, Coimbra, Abril de 1983 (3.ª edição, revista).

[sentimento de uma lei de irmandade no sangue das palavras], registo diarístico de Miguel Torga

Imagem encontrada em http://www.sindjorce.org.br/
Nazaré, 15 de Julho de 1955 – Breve encontro luso-brasileiro da poesia e da prosa. Um abraço lavado por este mar de transparências castiças e apertado pelo mesmo vento que enlaça com nós sentimentais os pinheiros da duna.
Não sei, mas há qualquer coisa de sagrado num diálogo entre pessoas que falam a mesma língua em tons diferentes. São misteriosas distâncias físicas e metafísicas que se aproximam e se entendem logo, sejam quais forem as diversidades que testemunham, e guardando ambas a graça irredutível. Numa palestra de irmãos de pátria, é inevitável certa monotonia que o prévio acordo a respeito de alguns valores essenciais motiva: num colóquio em que um dos parceiros se exprime num idioma estranho, a raiz dos assuntos nunca se atinge, porque fica sempre de fora não sei que subtil essência da verdade, que se recusa nas locuções alheias; mas quando os interlocutores usam dum léxico comum, que se matizou em terras diferentes, desaparecem todos os baixios ou desníveis de compreensão, e a conversa parece uma seara a crescer. As duas partes como que se induzem mutuamente. Ressuscitam vocábulos sepultos no cemitério dos dicionários, surgem expressões ou imagens já pressentidas mas informuladas, ensina-se e aprende-se na simples maneira de oferecer um café ou pedir um cigarro. Clarifica-se sobretudo nos recessos da alma o baço sentimento de uma lei de irmandade no sangue das palavras – a lei da conservação do espírito nas suas formas específicas de comunicação, por mais que as circunstâncias o dividam pelas cinco partes do mundo.

In «Diário (7.º volume)», de Miguel Torga, edição de autor, Coimbra, Abril de 1983 (3.ª edição, revista).