Com esta sua décima primeira obra publicada, Joaquim Manuel Pinto Serra regressa às origens da sua escrita e da marca poética, desta vez assumindo um tom coloquial, ao jeito de quem conversa com os leitores. E mesmo tratando-se de uma poesia intimista, a linguagem literária do escritor manifesta, de forma peculiar, um elevado valor expressivo e harmonia musical, sendo, ao mesmo tempo, de fácil compreensão e de agradável leitura. Isto deve-se, sem dúvida, à paciência, à persistência e também ao engenho com que o poeta trabalha a palavra.
Como é conhecido, na linguagem, cada substantivo, adjectivo, advérbio ou forma verbal tem dois significados: o pessoal (que é único, pois pertence à pessoa que usa a palavra) e o significado comum (sendo, por isso, partilhado com as outras pessoas).
Nesta conformidade, o poeta Joaquim Manuel Pinto Serra sabe cativar o outro – ou seja, o leitor – porque, não obstante a estilística (com as suas figuras de sintaxe, de pensamento e as suas imagens literárias), preserva as quatro qualidades fundamentais da linguagem: a clareza, a correcção, a pureza e a harmonia.
Assim, a obra “Marginalidades e alguns poemas de amor” garante uma intenção estética, mas também coloca em jogo os recursos de que o escritor se serve para expressar o que lhe vai na alma e no pensamento, além das suas reacções emotivas perante a vida e o próprio sentido da vida, naturalmente polissémica e cheia de surpresas, como quem desfolha um livro de poesia. A sociedade e a linguagem são, indiscutivelmente, os primeiros produtos da cultura, sendo esta a verdadeira extensão de cada um de nós, enquanto homens e mulheres que agem, fazem e sabem. E o escritor Joaquim Manuel Pinto Serra, que tem experimentado os mais diversos géneros literários, incluindo a escrita para um público juvenil, arroga-se como um co-responsável cultural. Daí a sua ansiedade e a sua perplexidade de cada vez que publica um livro, que é o suporte material do saber e da imortalidade, da utopia e da loucura, do disfarce e da aparência, do sonho e da ilusão, da solidão e da intranquilidade e também do segredo e da ausência – temas que dão significado às seis partes que organizam a obra “Marginalidades e alguns poemas de amor”
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PALAVRAS DE APRESENTAÇÃO:
O livro Marginalidades e alguns poemas de amor, de Joaquim Manuel Pinto Serra, é constituído por seis conjuntos de sete poemas cada um – conjuntos esses que apresentam títulos em dísticos começados com a preposição de, à maneira dos antigos autores clássicos, além de terem as segundas linhas ou versos mais longos: e.g. “do saber / e da imortalidade”, “da utopia / e da loucura”, “do sonho / e da ilusão”, “da solidão / e da intranquilidade”.
Trata-se de um livro que vive da nostalgia de um amor que é ausência e que a memória revive e desfia – memória que tanto relevo tinha entre os antigos Gregos, a ponto de considerarem ter sido da união de Mnemósine (a Memória) com Zeus, o próprio pai dos homens e dos deuses, que nasceram as Musas, ou seja, a poesia. E a sublinhar essa sensação de perda e de vazio, na colectânea, são frequentes termos como memória, solidão, ausência, espera, saudade. Repare-se neste dístico do poema da página 18: cobrem-nos de sabedoria estas paredes vaziase nelas existem fantasmas de solidão e de espantoou nestes versos-estrofe, um a concluir o poema 3 (pág. 19) e o outro como penúltima estrofe da composição 4 (pág. 20), respectivamente: “e desassossegos de longas esperas” e “um olhar ausente”. Ou pode ser “e o segredo intransponível de uma ruga” ou “um oásis a morar em nós / na dor oculta” (pág. 22). Aliás – o que não deixa de ser significativo –, solidão e ausência fazem parte do título das secções 5 “da solidão / e da intranquilidade”) e 6 (“do segredo / e da ausência”) do livro. Pode ser bom exemplo dessa ausência o poema da página 20 que alude à folha em branco em que se escreve, onde as palavras “são dicionários de espuma e de saber”. Apesar disso, nessa escrita “mudam-se emoções” e os afectos, um mundo em movimento que é mentira, “um olhar ausente / uma dor infinda”. Por sistema, os poemas começam por estrofes de dois ou mais versos (três ou até quatro) e terminam quase sempre por estrofes de um único verso, também quase sempre curto, de uma ou duas palavras apenas. Apetece chamar-lhe conclusão sincopada, como soluço de quem se sente cansado. Pode ser um bom exemplo a primeira composição do livro (pág. 17), de seis estrofes, que se inicia com três estrofes de três versos, passa por uma de dois e apresenta apenas um em cada nas duas finais.Muito raros são os poemas que terminam por verso extenso. E curioso se torna verificar que tal acontece com o último da colectânea, em que impera a memória da ausência e conclui com o verso “esperando em tons de azul o teu regresso”, verso longo que aparenta derradeiro esforço de esperança, qual náufrago que tenta última braçada. Mais uma ou duas observações sobre aspectos formais do livro – que, no entanto, podem ter relação com o ritmo interior do autor. Por exemplo, é curioso – e talvez até significativo – que os poemas, com frequência, aparecem constituídos por sete estrofes. Há mesmo uma secção, a quarta, com o título “do sonho / e da ilusão”, em que os poemas ímpares são formados por sete estrofes e os pares por seis. Trata-se de um ritmo heptástico que é próprio do autor – aliás, integrado no filão a que Trindade Coelho chamou “O Senhor Sete”. Também poderíamos apelidar de hebdomadário, porque tem muito a ver com o suceder semanal do tempo, embora Joaquim Manuel Pinto Serra me tenha confessado que não procurara deliberadamente esse número de poemas e de estrofes.
Se o livro "Marginalidades e alguns poemas de amor" se impõe por certas características formais, deixa ainda mais a sensação geral de transitoriedade, de fragilidade, de precariedade. Tudo flui e passa. E tal nos aparece em poemas, como o 2 da secção 1 (pág. 18), uma composição bem conseguida, cuja conclusão pela palavra vento, em estrofe isolada, é feliz e deixa a mensagem em suspenso, como que a pairar. Ou ainda mais no poema 3 da secção que tem por título “do disfarce / e da aparência” (pág. 35), em que “somos barcos que se movem ao sabor de um rio / onde naufragam”, em que cada um está de passagem a procurar “onde o mar acaba e a lágrima corre”, e uma lágrima que está “apenas em viagem / para uma outra margem”.
Essa fragilidade está evidente na última composição da primeira secção (pág. 23), em um conseguido poema em que as coisas ditas, boas e agradáveis, são trazidas pelo tempo, voláteis. Nele paira a sensação de fragilidade, de algo efémero, com o final feliz de descanso extasiado na eternidade “a viver a magia imaculada / de um momento”.
José Ribeiro Ferreira
Coimbra, Páscoa de 2009
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Registo de notícias e outras referências:
www.regiao-sul.pt/noticia.php?refnoticia=99944
appoetas.blogs.sapo.pt/14032.html
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FICHA TÉCNICA:
Livro: Marginalidades e alguns poemas de amor (apresentação de José Ribeiro Ferreira)
Autor: Joaquim Manuel Pinto Serra
Fotografia (capa e interior): Maria das Dores Borges de Sousa
Editora: Mar da Palavra - Edições, Lda.
Colecção: Poemar (N.º 5)
PVP:12,72 €
N.º de páginas: 74
Formato: 13,0 x 19,0 cm
ISBN: 972-8910-38-9 (EAN: 978-972-8910-38-9)
Fotografia (capa e interior): Maria das Dores Borges de Sousa
Editora: Mar da Palavra - Edições, Lda.
Colecção: Poemar (N.º 5)
PVP:12,72 €
N.º de páginas: 74
Formato: 13,0 x 19,0 cm
ISBN: 972-8910-38-9 (EAN: 978-972-8910-38-9)
www.regiao-sul.pt/noticia.php?refnoticia=99944
appoetas.blogs.sapo.pt/14032.html
http://livros.sapo.pt/agenda/artigo/3705.html
http://www.cm-loule.pt/index.php?option=com_noticias&id=4179
http://www.cm-loule.pt/index.php?option=com_noticias&id=4179
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Fotos da sessão de apresentação do livro «Marginalidades e alguns poemas de amor», no dia 24 de Outubro de 2009, na Casa das Beiras (em Lisboa), onde a Associação
Portuguesa de Poetas tinha a sua sede:
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