A escrita de Lurdes Breda, sem ser experimentalista, tem vindo a experimentar diversos géneros. E este seu novo livro – “A outra face do luar”–, pela força das circunstâncias que o antecederam, integra vários trabalhos apresentados em múltiplos concursos literários (alguns deles premiados, como sucede com os inéditos “Anjo dourado”, “Jasmim” e “Um Natal nas margens da minha infância”) e, por isso, são necessariamente curtos. Nesse contexto, adoptaram a estrutura do conto, embora a Lurdes Breda – intencionalmente e por imperativos de um estilo que começa a ganhar corpo e energia – fuja, um pouco, à roupagem própria deste género literário. As suas capacidades descritivas e narrativas dir-se-ia mais adequadas noutras margens que não as do conto, mas a escritora quer ultrapassar alguns cânones, privilegiando uma realidade ficcional por vezes avessa a determinadas regras de catálogo.
Com Lurdes Breda, escritora que a Mar da Palavra tem acompanhado desde o seu primeiro livro, os textos alcançam musicalidade e força no conflito humano (não importa se na primeira ou se na terceira pessoa), mas num ambiente em que, ao contrário do que se esperaria no conto, este aparece muito bem desenhado e não se sujeita a duas ou três pinceladas. Na escrita desta autora de Montemor-o-Velho (mais propriamente de Liceia), conseguimos ouvir o murmúrio das árvores e aperceber o aroma das flores, além das surpresas que se nos deparam, enquanto leitores, no território do mistério e do maravilhoso. Essas características textuais contribuíram muito para a beleza das ilustrações que a jovem pintora e ceramista Ana Loureiro preparou para esta obra.
Em cada um dos textos que compõem o livro, há o drama e o conflito, o sonho e a fantasia de uma ou duas personagens que aí participam numa procura que, além responder às dúvidas e às inquietações da escritora, nos ajudam igualmente a encontrar um objectivo ou um efeito importante para a nossa vida.
Apesar de o espaço físico da narrativa não ser muito dinâmico, não obstante a sua aparente diversidade, a escrita de Lurdes Breda transporta-nos para um universo sem limites – que é o da imaginação – e faz-nos viajar em e para horizontes que nos permitem muitas interrogações. Ou seja, o foco narrativo dos seus textos é problemático no sentido em que nos ajuda a repensar no porquê da nossa existência. É essa, em nosso entender, a tensão dramática que, nos mais diversos cambiantes, se nota no livro “A outra face do luar” – obra cujo título nos remete para um verso de amor de Natália Correia.
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