Como evoluiu a saúde da criança ao longo dos tempos? E, particularmente, em Portugal? De que modo são prestados os cuidados de saúde à criança no hospital e como é feita a articulação de cuidados e a intersectorial? Qual o envolvimento da comunidade, da criança e da família na concepção dos serviços de saúde? Este livro pretende responder a estas questões e contribuir para um melhor conhecimento da realidade da assistência hospitalar pediátrica na região Norte do País.
Quer também transmitir a mensagem de que os serviços pediátricos devem estar centrados na criança e na família e adaptados de modo a prestarem os melhores cuidados ao longo do percurso do doente, considerando a idade, o desenvolvimento da criança e as suas necessidades específicas.
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APRECIAÇÃO CRÍTICA:
"A minha bebé era a mais bonita da UCIN… Não eram apenas as campainhas e alarmes, as luzes sempre acesas, a falta de ar puro, os cheiros, a visão de todos os outros corpos muito pequenos e indefesos, que me faziam sentir perdida, tão sem controlo, receosa… Era pedirem-me para ser lúcida, tomar decisões sérias e com consequências, baseadas nas novas informações que os médicos obtinham e nos transmitiam. Ouvi, como numa má ligação telefónica ou numa televisão sem imagem nítida, algumas palavras, mas compreendi só parte do que ouvi…" (Marianne Rogoff, em "Silvie´s life")
Falar de "A criança e o hospital" significa, como no testemunho desta mãe, muito mais do que a caracterização de um serviço de pediatria. Envolve espaços e recursos mas também comunicação e cumplicidade com a criança, o adolescente e a família.
Ler o "Estudo dos cuidados hospitalares pediátricos na Região Norte" foi, para mim, uma (re)aprendizagem. Tem uma dimensão que ultrapassa a regional, pois junta o rigor estatístico à percepção humana, que deve ter quem cuida de crianças e de adolescentes, e uma reflexão final que integra propostas possíveis, as quais permitirão melhorar a prestação de cuidados hospitalares.
A evolução da saúde materna e infantil, em Portugal, é uma história de sucesso. É o resultado de factores múltiplos, sociais e económicos, mas também da vontade política de intervir nesta área. A nomeação da primeira Comissão Nacional de Saúde Materno-Infantil e o desenvolvimento do programa nacional de assistência partilhada à grávida, ao recém-nascido, à criança e ao adolescente condicionaram ganhos inequívocos e uma queda progressiva das taxas de mortalidade materna, perinatal e infantil, mais acentuada do que na maioria dos países da União Europeia. No entanto, nada seria mais grave do que a convicção de que, ao ultrapassar as metas traçadas, se pode manter o que se conseguiu sem grandes sobressaltos.
Se, por um lado, a sustentabilidade exige um esforço continuado, por outro, surgem novos desafios em saúde infantil, sob o ponto de vista social, como os inerentes às famílias em situação de exclusão social ou as situações de maus tratos, como novas patologias emergentes, como a obesidade, a depressão infantil, a doença crónica... Em suma, crianças e adolescentes com necessidades especiais.A saúde infantil faz-se nos centros de saúde pelo médico de família e pela enfermeira de saúde infantil e nos serviços hospitalares de pediatria. São estes o objecto do presente trabalho, no qual se faz uma ampla revisão das instalações, do equipamento, dos recursos humanos e de outros aspectos do atendimento, além das patologias mais frequentes.Por definição, um serviço de pediatria é um espaço amigo da criança, onde se privilegia o atendimento em ambulatório e se prestam cuidados hospitalares eficientes, seguros e apropriados à criança, ao adolescente e à família, por profissionais qualificados com conhecimentos e desempenho em saúde infantil.
É o espírito deste estudo, mas vale a pena realçar alguns aspectos aqui considerados. A admissão de uma criança no hospital só deve realizar-se quando os cuidados necessários à sua doença não possam ser prestados em casa, em consulta externa ou em hospital de dia. O internamento para a criança é um castigo. Deixa a sua casa, os seus brinquedos e o ambiente que conhece, indo para o desconhecido, muitas vezes hostil. Poucos serviços de pediatria da Região Norte têm hospitais de dia que permitam, por exemplo, a administração terapêutica de antibiótico endovenoso sem a criança pernoitar no hospital. Este aspecto tem de ser melhorado.
Quanto à idade limite de atendimento, é referida uma média de 13 anos no serviço de urgência, o que é inaceitável. Essa média é de 16 anos nas consultas, o que pode ser consequência do seguimento mais prolongado de crianças com doença crónica. Os adolescentes devem ser tratados e internados em pediatria, pelo que é inadiável avançar com o atendimento até aos 18 anos. A este respeito, a ARS Norte é exemplar, pois foram publicadas normas recentes que exigem o alargamento da idade de atendimento, de forma gradual, nos próximos anos.
Também é essencial a discussão da política de recursos humanos, sabendo que há um envelhecimento dos médicos e que a feminização global é ainda mais acentuada nesta especialidade, e que os novos modelos de gestão propõem contenção quanto à colocação de enfermeiros.
Numa reunião de medicina perinatal em Glasgow, ouvi classificar os cuidados médicos como espasmódicos e os cuidados de enfermagem como continuados, e achei que era a imagem real do médico, sempre apressado e interessado em diagnosticar e prescrever, e a da(o) enfermeira(o) com uma presença real junto do doente. Por isso, a "ratio" de enfermagem deve ter em consideração não só o número de crianças e adolescentes internados mas também o tipo de patologia e a população, assim como a especialização em saúde infantil.
Outros aspectos são igualmente assinalados como passíveis de evoluir e de melhorar: poucos serviços com educadora(e)s e psicólogos, e menor investimento na articulação com os cuidados primários, com perda de vitalidade das unidades coordenadoras funcionais, que devem manter o seu papel fundamental.
A reflexão local é indispensável já que há diferenças de região para região, assim como entre as populações e nos cuidados prestados. Este trabalho, desenvolvido na Região Norte, é essencial para quem tem funções de decisão e para os diversos profissionais, e também para as crianças e respectivas famílias.
O que existe? Como funciona e como se pode melhorar, para que – se a situação clínica obrigar ao internamento – as crianças se sintam bem no hospital? "(...) És tu que mandas aqui? Pedi ao meu pai e ele já disse que sim... Posso ficar cá até Setembro..." (6 anos, internado no HFF, Junho de 1997)
Maria do Céu Soares Machado (pediatra, Alta Comissária da Saúde)
Maria do Céu Soares Machado (pediatra, Alta Comissária da Saúde)
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FICHA TÉCNICA:
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Livro: A criança e o hospital – Estudo dos cuidados hospitalares pediátricos na Região Norte
Autor: Sílvia Álvares, Pedro Lopes Ferreira e Octávio Cunha (com prefácio de Maria do Céu Soares Machado)
Capa: Ilustração de Miguel Eufrásia
Editora: Mar da Palavra - Edições, Lda.
Colecção: Qualidade de Vida (N.º 3)
PVP: 17,67 €
N.º de páginas: 142
Formato: 14,5 x 21,0 cm
ISBN: 972-8910-28-0 (EAN: 978-972-8910-28-0)
Capa: Ilustração de Miguel Eufrásia
Editora: Mar da Palavra - Edições, Lda.
Colecção: Qualidade de Vida (N.º 3)
PVP: 17,67 €
N.º de páginas: 142
Formato: 14,5 x 21,0 cm
ISBN: 972-8910-28-0 (EAN: 978-972-8910-28-0)
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