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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

"Íris científica", da autoria de António Piedade (com prefácio de Jacques Houart e posfácio com textos de Paulo Barradas Rebelo e de Paulo Mota Gama)

OBRA RECOMENDADA PELO PLANO NACIONAL DA LEITURA (PNL 2009)

É um livro que reúne algumas crónicas (ou artigos) de divulgação científica que o bioquímico António Piedade escreveu, ao longo de 2004, na secção “Temas de Domingo” do Diário de Coimbra.
A sequência escolhida para os textos pretende ser um caminho que transporte o leitor por diversas paisagens científicas. Partindo de um momento interior e antigo, abre-se progressivamente a janela da íris para contemplar o universo longínquo – e que nos acolhe – com o espanto mágico da vida. Ou seja, com esta obra, convida-se o leitor a navegar pelo que desconhecemos e a encontrar, aqui e acolá, ilhas onde o espanto nos engrandece com conhecimento científico.
Com uma escrita simples e cativante, mas que mantém “critérios de rigor metodológico e de isenção científica”, este livro pretende ser um contributo para divulgar a cultura científica e mostrar que ela está ao alcance de todos.
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Duas ideias fundamentais têm que convergir, actualmente, na consciência dos cientistas e das populações. E é tempo que assim seja nesta época de crise e de mutação. A primeira é a ideia de que a ciência tem limites e é orientada por decisões e escolhas. A segunda é a de que as orientações da ciência devem contar com a participação do público e serem pautadas por princípios de transparência. Não se pode, pois, continuar a pensar que o que se faz, na ciência e com a ciência, deva resultar de uma dialéctica exclusivamente restrita ao binómio “governos e cientistas” e ao segredo dos gabinetes, dos laboratórios e dos "lobbies".
Daí a importância de todas as iniciativas que visam dar substância concreta ao ideal de cultura científica ao alcance de todos, mantendo, no entanto, como na presente obra, critérios de rigor metodológico e de isenção científica. São metas indispensáveis num contexto em que os deveres de participação na vida pública – e o seu pleno exercício, cada vez mais necessário no plano da cidadania mundial – estão intrinsecamente relacionados com os avanços dos conhecimentos científicos e das tecnologias novas, nomeadamente de informação; e com os valores de solidariedade e de emancipação que devem reger as suas escolhas.
É, pois, de louvar o empenho demonstrado, de maneira concreta, tanto pelos editores como pelo autor deste livro, em contribuir, de modo decisivo, para melhorar a cultura científica das populações, melhorando assim, simultaneamente, o mundo difícil e complexo em que vivemos.

Jacques Houart
(Professor do Departamento de Antropologia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra)
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Ver através da “Íris científica” foi uma experiência muito enriquecedora e entusiasmante por ter conseguido, através da sua simplicidade, mostrar-nos a beleza do conhecimento e a sua decomposição, em forma de cascata, de tudo o que nos rodeia até ao ponto em que o nosso limite actual é atingido. Se, por um lado, esta visão da ciência nos reporta a um estado de espírito confortável com o relato dos factos de uma forma quase cristalina, por outro, confere-nos uma estranha inquietude por nos deixar ansiosos por descobrir e conhecer o que ainda é – e vai continuar a ser por muitos anos que vivamos – desconhecido e inexplicado.A simplicidade é isto e, segundo Agustina, é o aspecto superficial do complexo ou, então, é a síntese de uma estrutura difícil. A íris, a cor dos nossos olhos, é aqui entendida por nós como a multiplicidade dos pensamentos e a sua relação com a vida e com a Natureza. A beleza é, assim, uma caracterização estética, com identidade e de natureza relacional, pois pode ser encontrada através de múltiplos olhares e não apenas confinada à obra de arte. Apropriando-nos de um pensamento de Nietzche, este livro, que aqui acaba, teve em nós um impacto semelhante “a uma pedra atirada na nossa vida: um primeiro círculo interior é estreito, mas multiplica-se e outros círculos mais amplos se destacam.” Aliás, o próprio autor, na sua nota inicial, assim se manifesta ao convidar o leitor a seguir um caminho, que apesar de antigo (ou já conhecido), segue para o desconhecido, numa procura infinita pelo conhecimento que não vai, jamais, ter fim. A Bluepharma, no seu ainda curto tempo de vida, tem vindo a apoiar iniciativas que visem a divulgação da cultura científica junto da sociedade, nomeadamente, através de jovens autores, que considera valores emergentes da investigação científica nacional e dos quais o autor, António Piedade, é um bom exemplo. Este livro que agora se edita evidencia, mais uma vez, a aposta que continuamente estamos a fazer na divulgação da ciência, assumindo conscientemente uma postura de responsabilidade social perante a comunidade científica, em particular, e a sociedade portuguesa, em geral.

Paulo Barradas Rebelo
(Director Geral da Bluepharma - Indústria Farmacêutrica, S. A.)
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A ciência é uma componente essencial da nossa cultura. Resulta, em primeiro lugar, da intrínseca curiosidade humana. Dessa curiosidade que nos fez questionar sobre o Universo em que vivemos, o mundo que habitamos, as características da Natureza que nos rodeia e da nossa própria natureza. Mas, a curiosidade apenas não nos permitiria passar da especulação filosófica. Foi preciso inventar um processo que nos possibilitasse colocar perguntas à Natureza e ter respostas consistentes. Respostas que nos conduzissem a aceitar umas ideias e rejeitar outras, baseados num critério de consistência com a realidade exterior. Esse método, chamado científico, constitui a chave do sucesso da ciência. O conhecimento que se acumulou nos últimos quatro séculos é de tal forma extraordinário que o mundo que nos é revelado e descrito pela ciência tem uma configuração surpreendente. Hoje, sabemos que temos olhos castanhos ou verdes ou azuis por causa de uma informação localizada em todas as nossas células e que herdámos dos nossos progenitores; sabemos que somos o resultado de uma evolução orgânica que se desenrola há mais de três mil milhões de anos neste planeta; ele próprio resultado da agregação de matéria dispersa no nosso sistema solar, iluminado por uma estrela de média dimensão, que se encontra mais ou menos a meio da sua existência, localizada num dos ramos da Via Láctea, um dos muitos aglomerados de estrelas que ocupam este Universo. De uma forma que nunca antes havia sido imaginada, o Homem consegue compreender o Mundo que o rodeia. Esse conhecimento também lhe possibilita actuar sobre ele, modificando-o, transformando-o, de modo cada vez mais profundo. Muitas das modificações foram benéficas para a humanidade, outras não. É certo que duplicámos a esperança de vida na Europa, relativamente à Idade Média. Contudo, também começamos a viver as consequências de um aquecimento global do planeta, resultante, essencialmente, da actividade humana, através da queima de combustíveis fósseis. Erradicámos algumas doenças, mas novas epidemias surgiram, como a sida, enquanto que outras resistem aos nossos conhecimentos, como a malária, que continua a ser a primeira causa de morte por doença no Mundo. A população cresceu a um ritmo elevadíssimo, em consequência da maior eficácia de extracção de recursos e produção de alimentos, mas eliminámos ou contribuímos para eliminar milhares de espécies de vida selvagem. O futuro é complexo, não havendo soluções fáceis para garantir um desenvolvimento harmonioso e sustentado. Mas, consegui-lo só é possível com o recurso à ciência. A ciência requer um espírito livre, capaz de questionar ideias assentes e dogmas estabelecidos. Por isso, sempre se deu mal com regimes não democráticos. Se há instituição que não vive de mitos e de crenças e que faz do cepticismo, da dúvida e da destruição dos mitos uma virtude, em busca de um conhecimento mais aprofundado, é a ciência.Nas sociedades democráticas actuais, os cidadãos procuram ter, cada vez mais, uma opinião informada sobre as coisas que os rodeiam e são chamados a tomar decisões, directa ou indirectamente, sobre assuntos complexos. Não é possível, sobretudo em sociedades que tanto dependem da ciência e da tecnologia, que haja um divórcio ou sequer um desconhecimento sobre a ciência, que constitui uma parte fundamental da nossa cultura.A divulgação científica ocupa aqui um papel fundamental de mediador entre o conhecimento científico acumulado, complexo e cada vez menos intuitivo, e a sociedade. No ano de 2005, comemora-se o centenário de um conjunto extraordinário de descobertas, realizadas por um único cientista, Albert Einstein, que transformaram, por completo, a física nos cem anos que se lhe seguiram. Por isso, pela importância que a ciência ocupa no mundo actual e pelo papel que se espera venha a desempenhar no futuro, a ONU decidiu dedicar o ano de 2005 à divulgação da física e da ciência, em geral. A obra que agora se edita constitui um contributo importante para a divulgação científica, num momento que se espera seja um ponto de viragem na aproximação entre a ciência e os cientistas e a sociedade. Quero felicitar o autor, António Piedade, pelo excelente trabalho e pelas horas de leitura fascinante que nos oferece.

Paulo Gama Mota
(Director do Museu Nacional da Ciência e da Técnica Doutor Mário Silva)
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CAPA: Ilustração da autoria de Armando Jorge.
A imagem reproduzida na capa reflecte muito o papel da ciência em nos desvendar a natureza das coisas: aquilo que parece uma migração de bandas electroforéticas não é mais do que uma fotografia de uma folha de jornal, intencionalmente desfocada pelo criativo Armando Jorge, com a ajuda de uma lente. Depois de compreendida e explicada, a sua natureza sobressai da aparência ilusória.
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AGENDA:
Semana da Ciência e da Tecnologia (Auditório Municipal da Figueira da Foz, 9 Dez. 2010, 10h30):
http://webcache.googleusercontent.com/search?hl=pt-PT&q=cache:ixoKsaN6E4oJ:http://www.figueiradigital.com/?mid=3&agenda=937+%22%C3%8Dris+cient%C3%ADfica%22&ct=clnk
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Registo de notícias e outras referências:
http://odespertar.com/jornal/index.php?option=com_content&view=article&id=1036:iris-cientifica-um-livro-a-nao-perder&catid=29:opiniao&Itemid=136
http://barlavento.pt/mais/ciencia/teoria-da-relatividade-geral-faz-hoje-100-anos

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