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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

"Estas aparências que nos doem", colectânea de contos de Joaquim Manuel Pinto Serra (com prefácio de Helena Rainha Coelho)



A obra que mereceu a 1.ª Menção Honrosa do Prémio Nacional de Conto Manuel da Fonseca (edição de 2004) é o livro que abre a colecção “Cais da Ficção” da editora Mar da Palavra. São nove os contos que compõem este livro e, em todos eles, estão representadas as vivências profissionais do autor, as suas preocupações humanistas, a sua ternura pelo ser humano frágil, solitário, quase sempre na decadência da idade. Pessoas do nosso quotidiano, que conhecemos e com quem nos cruzamos sem as vermos. Mas vê-as e compreende-as Joaquim M. Pinto Serra, tratando-as com carinho, mesmo quando deixa transparecer a ironia crítica, sempre presente em todos os seus contos.
As suas personagens são, na maioria, mulheres a quem a idade, o desencanto e as frustrações de uma vida que pouco teve para lhes dar e quase nada lhes prometeu, mas que o autor recria com autenticidade. Mulheres incapazes de sonhar, que já nada esperam e, pior, nem passado têm, com memórias que valha a pena recordar. Tão pouco desfrutaram; tão pouco desejam!
Não se pense que “Estas aparências que nos doem” é um livro que deixa o leitor tão desencantado quanto as personagens que o perpassam. Bem pelo contrário! Pois, é antes um livro cheio de ternura e de compassividade. A ironia é o bisturi que o autor utiliza para dissecar os sentimentos e até os devaneios dessas personagens carentes e solitárias.
A problemática menopausa da dona Mariazinha, as preocupações do senhor engenheiro, a dona Candidinha e os seus estranhos sonhos eróticos, os preconceitos fatais da menina Noeminha, o fulgurante, ainda que breve, momento de amor de Amélia, a sensualidade passiva e pudica que nelas persiste reproduzem o absurdo e as contradições da existência.
Na curta história de cada conto, o autor, embora parecendo zombar delas, retrata, com desvelo comovido, estas personagens a quem a vida gorou a possibilidade de se realizarem nas suas próprias circunstâncias. Ao analisar-lhes os conflitos, o autor reclama, para elas, a compreensão e a solidariedade do leitor.
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