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Manuel Alegre – Foto retirada de http://cabelosaovento.blogspot.pt/
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Não sei de que cor são os navios
quando naufragam no meio dos teus
braços
sei que há um corpo nunca encontrado
algures no mar
e que esse corpo vivo é o teu corpo
imaterial
a tua promessa nos mastros de todos
os veleiros
a ilha perfumada das tuas pernas
o teu ventre de conchas e corais
a gruta onde me esperas
com teus lábios de espuma e de
salsugem
os teus naufrágios
e a grande equação do vento e da
viagem
onde o acaso floresce com seus
espelhos
seus indícios de rosa e descoberta.
Não sei de que cor é essa linha
onde se cruza a lua e a mastreação
mas sei que em cada rua há uma
esquina
uma abertura entre a rotina e a
maravilha
há uma hora de fogo para o azul
a hora em que te encontro e não te
encontro
há um ângulo ao contrário
uma geometria mágica onde tudo pode
ser possível
há um mar imaginário aberto em cada
página
não me venham dizer que nunca mais
as rotas nascem do desejo
e eu quero o cruzeiro do sul das
tuas mãos
quero o teu nome escrito nas marés
nesta cidade onde no sítio mais
absurdo
num sentido proibido ou num semáforo
todos os poentes me dizem quem tu
és.
In
«Poemas de Amor – Antologia de Poesia Portuguesa», organização e prefácio de
Inês Pedrosa, Publicações Dom Quixote, Lisboa, Abril de 2001 (2.ª edição).
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