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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

FRAGMENTOS DE “RAPSÓDIA DA GUERRA”, poema de Arquimedes da Silva Santos

 

Imagem encontrada em https://aultimaprofecia.wordpress.com/














(Ao Fernando Piteira Santos
Ao Jorge Borges de Macedo)

1

Em todos os portos do mundo
há sempre um velho marinheiro olhando olhando
íris esbranquiçada do sal do mar.
Em todos os portos há sempre um velho marinheiro olhando
e perscrutando o que as ondas segredam.
Que sobre as ondas do largo mar não há mais Paz
porque as tinge o sangue de corpos estilhaçados
corpos por minas despedaçados
retesados e hirtos e inchados
boiando sobre as ondas num sonho de Paz…

E velhos marinheiros ouvem águas murmurar
a elegia dos gemidos de jovens marinheiros…

2

Velhos marinheiros da Holanda
inda que abrísseis todos os diques aos inimigos
passariam porque estais traídos.

Velhos marinheiros da Holanda
fumando o cachimbo da Paz
olhando olhando com olhos pisados
sentindo a elegia e a morte dos vossos filhos
fora melhor morrer também
a ver as águas do mar da Guerra
onde bóiam corpos dos vossos filhos
cuja elegia tristemente as ondas levam…

In «Cantos cativos – Poemas coligidos: 1938-58», de Arquimedes da Silva Santos, Colecção Campo da Poesia (n.º 51), Campo das Letras, Porto, Maio de 2003 (1.ª edição).

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