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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

[Sísifo, como toda a gente], registo diarístico de Miguel Torga

Imagem encontrada em www.portalsaofrancisco.com.br
Coimbra, 7 de Novembro – Mais um livro. Mais um teimoso esforço para romper caminho nesta noite absurda que rodeia tudo. Azarento como sou, em vez duma época luminosa e fecunda coube-me a escuridão dum poço de onde tento sair a todo o pano. Sísifo, como toda a gente, mas convencido de que há-de ser transitória a actual condenação do homem, empurro a pedra sem acreditar no mito. Pode lá ser verdade este neo-romantismo sem esperança, só tédio e angústia, agónico na forma e no conteúdo!
Não! Embora marcado pelo meu tempo, e solidário com as suas dores, creio firmemente que o futuro há-de sanear esta podridão. E cá ando com todas as minhas forças à espera do dia de amanhã.

In «Diário (5.º volume)», de Miguel Torga, edição de autor, Coimbra, 1974 (3.ª edição, revista).

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