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quinta-feira, 24 de novembro de 2016

AS PALAVRAS, poema de Eugénio de Andrade

Foto encontrada em http://users.isr.ist.utl.pt

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

In «Antologia Breve», poesia de Eugénio de Andrade, Colecção «Obra de Eugénio de Andrade» (n.º 25), Fundação Eugénio de Andrade, Porto, Maio de 1994 (6.ª edição).

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