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Foto retirada de http://purl.pt |
Fui
ao seu consultório muitas vezes.
Tratou-me
da garganta e do nariz.
Limpou-me
as ventas. Mas sobretudo
abriu-me
as válvulas de dentro
para
que o vento da pergunta circulasse
varrendo
teias medos presunções.
Também
de versos me falou: «O primeiro é dado
os outros tens de conquistá-los.»
E
quando do país desesperava
confessando-lhe
desisto
ele
dava-me a receita e a divisa
«ser contra isto para ser por isto.»
E
sempre em sua casa me regalou
com
seu Porto e seu tinto Barca Velha
às
vezes galinholas e narcejas.
«Fui caçá-las para ti» – dizia.
Por
isso lhe estou grato. Por me tratar
das
ventas e dos versos.
Por
repartir comigo o pão o vinho e a palavra.
Por
sua fidalguia. E sobretudo
por
sua lição de vida e poesia.
In «Coimbra nunca vista» (poesia), de Manuel Alegre,
Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1995 (1.ª edição).
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