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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

«Aqui estou eu, portanto», poema de Odysséas Elytis

                AQUI ESTOU eu, portanto,
o criado para as pequenas Kóres e as ilhas do Egeu;
                o amante das cabriolas dos cabritos,
o iniciado das folhas da oliveira;
                o bebe-sol e mata-gafanhotos.
Eis-me aqui frente
                ao negro vestido dos fanáticos
e à irritação do ventre vazio dos anos
    que abortou os seus filhos!
O vento desata os elementos e o trovão assalta os montes.
    Destino dos inocentes, eis-te de novo só, tu, nos Estreitos!
Nos Estreitos abri as mãos.
    Nos Estreitos esvaziei as mãos
e não vi outra riqueza nem ouvi outra riqueza
    que o correr das frias fontes.
Romãs ou Zéfiros ou Beijos.
                «Cada um com as suas armas», disse:
Nos Estreitos abrirei as minhas romãs.
                Nos Estreitos porei de sentinela os zéfiros,
libertarei os antigos beijos que o meu desejo santificou!
                O vento desata os elementos e o trovão assalta os montes.
Destino dos inocentes, és o meu próprio Destino!

In «Louvada seja (Áxion estí)», de Odysséas Elytis (com tradução e posfácio de Manuel Resende), colecção «Documenta Poetica», Assírio & Alvim, Lisboa, Março de 2004 (1.ª edição).

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