Eugenio
Montale – fotografia retirada de http://www.excite.it
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ANTIGO, fico embriagado pela
voz
que sai das tuas bocas
quando se abrem
como verdes sinos e voltam
para trás desaparecendo.
A casa dos meus longínquos
estios
ficava a teu lado, como
sabes,
naquela terra onde o sol
abrasa
e os mosquitos soltam nuvens
pelos ares.
Agora como então emudeço na
tua presença,
mar, e não me acho digno já
do solene ensinamento
da tua respiração. Foste o
primeiro a dizer-me
que o ínfimo fermento
do meu coração era apenas um
momento
do teu; que eu tinha bem no
fundo
a tua audaciosa lei: ser
vasto e diferente
e ao mesmo tempo constante:
e esvaziar-me assim de toda
a sujidade
como tu fazes quando lanças
nas areias
entre cortiças algas e
estrelas-do-mar
os inúteis despojos do teu
abismo.
In «Poesia»,
de Eugenio Montale (selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel de
Vasconcelos), colecção ‘Documenta Poetica’,
Assírio & Alvim, Junho de 2004 (1.ª edição).
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