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O verdadeiro pão tem alegria!
Tem o saibo da terra e a luz do sol!
E é de todos!
E há-de acalmar a mão,
se é realmente o pão
da pele, dos ossos e do coração!
E depois dele há-de ficar no sangue
um desejo sem fim de amar a vida!
Mas amá-la na seiva, no mais fundo,
no mais branco do mundo,
lá onde ela se estrema, recolhida!
Há-de correr nas veias
uma onda de paz.
E as horas, depois,
longas e fundas como o azul do mar,
hão-de ser puras e de cada um.
A chorar,
a sorrir,
cada qual há-de poder passar,
e chegar,
se tinha verdadeiramente onde ir!
Pelas noites mais vastas e desertas,
quando se gera orvalho e nascem flores,
– Os rouxinóis que fazem, Senhor Homem?
Comem?
– Não: cantam os seus amores!
Miguel Torga, in “Lamentação”, Coimbra, 1970 (3.ª
edição)
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