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terça-feira, 1 de março de 2016

Sobre o poema A VOZ QUE ME DITA OS VERSOS, de Joaquim Namorado

Joaquim Namorado, por Mário Dionísio, óleo sobre tela

Parece-me que encontro na serôdia «Poesia Necessária» talvez o seu mais sincero desabafo poético, no poema «A voz que me dita os versos»:

Sento-me à mesa e escrevo…
A voz que me dita os versos e tudo diz e cala
……………………………………………….

é a tua amiga a quem não vejo há tanto
e cuja presença me não esquece.
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é do povo o canto e o choro que vem
do fundo desespero em que se move
……………………………………………….

– É a tua voz, coração do mundo,
a tua voz ansiosa, a tua voz vibrante,
a tua voz desesperada, a tua voz confiante.
Sejam meus versos a vogal precisa,
Bata no meu pulso o coração do mundo.

Talvez seja este o supremo poema do seu percurso, que de «Aviso à Navegação», pela «Incomodidade» sempre achou a «Poesia Necessária».
Militantemente, tal um poeta-estandarte, e não seria acaso o pseudónimo de Bandeira, aliás palavra frequente em muitos poetas, foi alferes de uma nova luta, de algum modo para o futuro (futurista, como o seu outro pseudónimo Álvaro, não de Campos, mas no versilibrismo informal como meio de expressão do novo conteúdo).
Mas, não desdenhando a tradição de «cantigas de escárnio e maldizer», atira assim sarcasticamente arremedos, numa algo surrealizante «Viagem ao país dos nefelibatas».

In «Testemunho de neo-realismos», de Arquimedes da Silva Santos, Livros Horizonte, Lisboa, Abril de 2001 (1.ª edição).

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