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O sociólogo alemão Niklas Luhmann
(https://abdet.com.br/site/niklas-luhmann/)
«[…] Como se pode estar seguro de
que os leitores vão ler o que os escritores vão comunicar? E por acaso isto
continua a ter importância?
Enquanto na
comunicação oral falar e escutar e, portanto, também comunicar e compreender ou
não compreender, reúnem-se no mesmo lapso de tempo, a comunicação escrita tem
que contar com distâncias espaciais, temporais e também pessoais muito maiores.
Escritor e leitor não têm que se conhecer mutuamente; nem sequer é necessário
que se possam identificar um com o outro. Paralelamente, e até aparecer a
imprensa, a questão da autoria não teve demasiada relevância e só quando surgiu
a imprensa começou a considerar-se desejável a identificação do autor, porque
só a partir deste momento pareceu importante ao escritor que se venerasse o seu
texto como fruto de seu esforço pessoal. Assim, a partir deste momento, o
leitor pode conhecer o nome do autor, mas não o inverso. A comunicação tem
lugar dentro dum círculo de receptores, temporal, espacial e pessoal,
indeterminado. A partir de agora falar-se-á do público (leitor) ou da opinião
pública. Se isto pode continuar a ser considerado comunicação (e só a partir de
agora pensamos também na comunicação escrita ao usar este termo) será só porque
a unidade de um acto de comunicação pode identificar-se com o sentido da comunicação,
mas já não se pode identificar com a proximidade temporal, espacial ou pessoal,
nem com um acontecimento singular. A invariabilidade do sentido, assegurada
textualmente, garante a unidade dos acontecimentos elementares que compõem o
sistema comunicativo. E aqui nasce também portanto um novo limite da
comunicação que pode servir como base de uma nova evolução não sabemos com
consequências.» (cf. Luhmann, 2006: 140-141)
LUHMANN, Niklas (2006). A Improbabilidade da
Comunicação (4.ª ed.). (A. Carvalho, Trad.) Lisboa: Vega, Limitada.
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