Porto – Fotografia encontrada http://arquitectura.ufp.pt/
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A primeira inclinação será, de quem por fim a si próprio
se adapta, no sentido de reconstituir os lugares de menino. Assim se vai passar
com a longínqua Guilhermina, quando os empresários em propostas se sucedem já,
de entrevistas gastronómicas para os lados de Covent Garden. Voa-lhe a alma,
por vezes, a outra cidade, a esse Porto de vinte e cinco, com os
aquartelamentos em polvorosa, o aeróstato que sobre a turba se desloca, as
mercearias que para o passeio rebentam seu stock de tachos e vassourame, de
sacos de vária qualidade de grão. Aí duram os pais, desavindos sempre, Augusto
que anda tocando por aqui e por além, Elisa que as etapas segue da filha,
enquanto alguns conselhos respiga de um almanaque ensebado. Numa casa da Rua da
Alegria irá a violoncelista reuni-los, um pouco sorrindo da unção patrística,
apanágio dos pândegos como o papá, que admoesta ser já altura «de pensarem com
tino e se convencerem de que não há coisa melhor do que a boa harmonia da
família, por causa dos remorsos que mais tarde mortificam bastante». Num
dislate contínuo é que a tribo sobrevive, com o duo recomposto, Felisbela, a
filha natural, as sonsas criadas que a acção e o verbo dos amos não deixam de
policiar. E um inferno, amistoso quase, se encena, com silêncios que entremeiam
os ágapes de bacalhau, furtos inexplicáveis, gritadas trocas de satisfações.
Ora é o espaço privativo que se invade, ora Glória, a de dentro, que com o
faunesco patrão um entendimento mantém inadmissível. Desaparecem os bolos e o
colarzinho da boneca, um rumor de tempestade no tecto sobrenada de tudo isso.
Será Elisa a mais sensível, excelente relatora de quanto vai sucedendo, a
Guilhermina dando parte epistolar, com um que outro remoque contra FB, que
assim denomina a bastarda intrusa. Conserva-se esta, aliás, bem de fora das
peripécias, dormitando pesadona e de luzes acesas, apressada saindo para esse
sítio onde, violoncelista ainda, o repasto acompanha de meia dúzia de
macambúzios, que uma banana descascam com detida precaução. A Queen Annes’s
Gate chegam as novas, sem vírgulas, à fada-madrinha de todos, meu bijou, meu
encanto, na emulação em que os pais entre si a disputam. E a dadivosa Guil, que
as despesas paga em troca só de algum desvelo, quando a ciática lhe dá ou um
gerente ignora a fila onde ordenara lhe reservasse três lugares, quase nunca se
lastima. Consulta a irmã, amoravelmente casada no Quai de Bourbon, torna à
pauta sobre a estante, com a habitação do Porto e os moradores acondicionados
num recanto de seu afecto.
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