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Entre Londres e Heathfield infindas horas despende,
esquadrinhando recitais, congeminando contratos, a um guiché se plantando, onde
é necessário munir-se de inquebrantável paciência. Minuto a minuto, pelo toque
entrecortado de um klaxon, atravessando o Strand, numa quadra acanhada onde as
xícaras tinem, é o rondó do Concerto em
Ré, de Haydn, andarilho e folgazão, que a possui. E o espírito se lhe
insurge contra a memória insistente, que em tudo se engasta, arrogando-se
direitos, como central a utilizando onde vozes e ecos, ecos e vozes se
imbricam. Perpassa o comboio por estações onde se aprumam os esperantes, sob
lâmpadas que se atarraxam a um quebra-luz de esmalte branco. Do alto dos
taludes uma tribo de crianças espreita, filhas da viúva indigente e corajosa
que um livro escreveu de muita celebridade. E ao fundo os detritos se amontoam,
bidões e farrapos, por entre cascalho e carris arrancados. Num espaço se pára,
por fim, de viadutos, atira-se com a porta da carruagem, onde ficam uma bolsa e
um jornal. O cansaço vence os que reentram, um odor aflige a suor e a giz,
descaem uns quantos sobre os comparsas ao lado, com o fio da saliva a
correr-lhes pelo queixo. Persiste o rondó, embalando os que vão, os sentidos
revolvendo de Guilhermina. Num estrépito, porém, de rodados e cabos, a um ramal
se acede, apodera-se a orquestra da integral melodia. E lá vai Joseph Haydn,
fungando rapé, a luz soprando de um astro, alumiando outro, numa pressa
transitando pela Via Láctea.
In «Guilhermina» (romance), de Mário Cláudio, Publicações Dom Quixote, Lisboa, Junho de 2007 (5.ª edição – 1.ª na Dom Quixote).
In «Guilhermina» (romance), de Mário Cláudio, Publicações Dom Quixote, Lisboa, Junho de 2007 (5.ª edição – 1.ª na Dom Quixote).
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