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Para essa busca das mãos, o desencontro delas, a que
soluções poderá recorrer o biógrafo? Radica-se em Inglaterra, com o violoncelo
que em Paris entretanto arrebatou, temo-la «by Mrs. Hart», em Broadhurst,
Heathfield, Sussex, como se a guerra não bramisse. Libertos da trela, farejam
os cães as valetas, estacam ante um bando de gansos despenhados de um barranco,
que de mau génio sibilam. Ao cálido sol da manhã, no peitoril os boiões se
enfileiram da geleia de framboesa, há quem, na precaução do Inverno, renove o
colmo de seu telhado. Saltitam os estorninhos ávidos, a debicar as aparas de
bacon, ao abrigo preguiça Emma, a gata, de um recesso de hortênsias que o gelo
mumificou. É, então, o ritmado baque das bolas de squash, com violência
expedidas num corte que se não vê. Atiçado o lar, sob o relógio decidindo o
tempo certo na escarpa da chaminé, fica ela ensaiando até muito tarde, no
quarto que lhe cederam, donde a torre normanda se distingue, a Lua que em baixo
desponta, rasando copas de bosques fervilhantes de roedores, fossos estagnados
de fortalezas que se esboroam. E um vasto parque se prolonga pelos outeiros,
transpõe urzes e silvados, na perspectiva se limita dos Downs, da pardacenta
lista do Canal. Passam as amazonas em seu trote domado, perfura a chaleira uma
pausa com o assobio infinito. Escondida por tais aparências, saboreia
Guilhermina os dias conforme lhe vêm. Necessário se faz, agora, aprender-lhes o
uso, no conjunto o tecer das idades, desculpar-lhes o encanto com que se
esventram, de polpa rubra e doirada, completos na elipse que vão descrevendo.
In «Guilhermina» (romance), de Mário Cláudio, Publicações Dom Quixote, Lisboa, Junho de 2007 (5.ª edição – 1.ª na Dom Quixote).
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