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quarta-feira, 20 de abril de 2011

"LEITURAS DE TORGA" - Obra colectiva com textos ensaísticos e depoimentos de Carlos Carranca, Eloísa Álvarez, Eugénio Lisboa, João Bigotte Chorão, José Carlos Seabra Pereira e Telo de Morais (Nota introdutória de Cristina Robalo Cordeiro)




Palavras iniciais

Cristina Robalo Cordeiro *

Quatro anos passaram já desde as comemorações do centésimo aniversário do nascimento de Miguel Torga. Os textos aqui reunidos dão testemunho do zelo carinhoso, da atenção apaixonada e da admiração sem reserva para com uma obra ao mesmo tempo intemporal e intempestiva.

À maneira dos grandes clássicos, o escritor quis, com um trabalho obstinado de escrita e uma incansável procura da perfeição formal, arrancar os seus poemas e as suas páginas de prosa à corrente que devasta tudo o que é mortal: uma tal intenção parece querer infinitamente afastá-lo de nós. Na era da instantaneidade informática e da “sustentabilidade” financeira, a vontade de eternidade possui algo de incompreensível, de bizarro até talvez (para não dizer de “gótico”). Mesmo do seu Diário, por definição o mais nobre dos géneros, Torga quis fazer um monumento. E teve o cuidado de compor ele próprio a sua Antologia Poética, preocupado em não deixar a ninguém a escolha do que, aos seus olhos, era merecedor de perenidade. Da mesma forma, como, melhor do que intitulando a sua autobiografia A Criação do Mundo, teria podido afirmar uma necessidade metafísica de salvar a sua obra – se não a sua existência – da fugacidade dos eventos deste mundo?

Mas não será esta bela ilusão imortal (aliás, acreditaria ele na “posteridade”?) que o afasta cada vez mais dos nossos contemporâneos alienados na e pela cultura do efémero? O seu carácter genuíno decorre antes do apego profundo (deveremos dizer pagão ou religioso?) ao solo natal, a esta terra ibérica de que todos hoje querem fugir, pela miséria económica e social que, sem dizer água vai, sobre nós se abateu. Profeta, e, como qualquer bom profeta, profeta da desgraça, Torga bem que havia chamado a nossa atenção, por um lado, para a degradação da mística revolucionária em política oportunista e, por outro lado, para os perigos de uma integração europeia abandonada à tecnocracia. Se é verdade que “os optimistas escrevem mal”, Miguel Torga, pela sua lucidez tantas vezes amarga (que o aproxima de um Cioran) é um escritor de grande estirpe.

Talvez que ainda não tenhamos suficientemente sofrido para voltarmos aos seus livros com o espírito de simplicidade e de autenticidade que convém à sua leitura. Talvez que nos falte, pela força das duras circunstâncias, renunciar à atracção do luxo e do supérfluo, para reencontrarmos no fundo de nós a sede dos verdadeiros valores, essa sede que a obra de Miguel Torga possui segredo de saciar e de reavivar.
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Cristina Robalo Cordeiro é professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, conservadora da Casa-Museu Miguel Torga, cônsul honorária de França e vice-presidente da Alliance Française de Coimbra. Foi vice-reitora da Universidade de Coimbra, com responsabilidade nas áreas de Relações Internacionais, na Gestão Académica, na Pedagogia, na Cultura e na Creditação e Avaliação Pedagógicas. Foi, também, presidente da Associação Portuguesa de Literatura Comparada.
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NOTA: Fotografias da capa (pormenor) e no interior do livro da autoria de José Maria Pimentel (gentilmente cedidas por Telo de Morais).
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Registo de notícias e outras referências:
http://www.joaquimevonio.com/PDF/abr2011_ag_84_coimbra.pdf
http://gazetadecoimbra.pse-engineering.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=92129:mar-da-palavra---edi%C3%A7%C3%B5es,-lda.:-leituras-de-torga,-textos-%3Cb%3E...%3C/b%3E&catid=1:blogs&Itemid=50
http://www.bibliofeira.com/livro/428196444
http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:ThMjDRoWTSsJ:www.philippinesdaily.info/cebu/blogs/Cristina-Rota.html+%22Leituras+de+Torga%22&cd=9&hl=pt-PT&ct=clnk&gl=pt&source=www.google.pt
http://www.diariocoimbra.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=12450&Itemid=135
http://www.ofigueirense.com/seccao.php?id_edi=230&id_sec=1
http://ftp.pt.cision.com/download/20110429/Universidade_Catolica_Portuguesa_Universidade_Catolica_Portuguesa_634396675656546629.pdf
http://blog-daradio.blogspot.com/2011/04/leituras-de-torga.html
http://issuu.com/campeaodasprovincias/docs/jornal571_28_04_2011
http://www.wook.pt/ficha/leituras-de-torga/a/id/10928925
http://es-la.connect.facebook.com/event.php?eid=216696645024731
http://issuu.com/tcpnews/docs/maio_2011_def_a
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEga-vWzWAFTkvaMz_7Vpml8VkamF0LRrixwhlZXmJtTsXu3lkxJzd7PwC6T2NYY_aPStk2BF6kqVQ_2GDXOIesujOpaZGZQ0_SJLHhBckFfCksDGbVeAvzeJUyG_OzTXiJdQk8GLcYu0AjC/s1600/Convite+COIMBRA_Leituras_de_Torga.jpg
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http://ccarranca.blogspot.com/2011_04_01_archive.html
http://www.ofigueirense.com/seccao.php?id_edi=232&id_sec=1
http://www.bertrand.pt/ficha/leituras-de-torga?id=10928925

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Centenário da morte de Fialho de Almeida

Ao ser assinalado o centenário da morte de José Valentim Fialho de Almeida (1857-1911), a editora Mar da Palavra propõe a leitura da obra "Eça de Queirós", com textos deste ensaísta e cronista, também autor de "A Cidade do Vício", "Lisboa Galante", "O País das Uvas", etc.