Yukio
Mishima – Foto retirada de http://sydneytrads.com
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Quando
chegava a estação dos mergulhos, as raparigas encaravam-na com a mesma angústia
que sentem as raparigas da cidade ao chegar a altura dos exames de fim de ano.
Durante os primeiros anos de escola costumavam fazer concurso par verem quem
conseguia apanhar o maior número de conchas no fundo da água – e essa
brincadeira iniciava-as na arte de mergulhar e instigava o espírito de competição.
Mas quando o divertimento dava lugar à actividade séria e severa, todas as
raparigas sem excepção começavam a ser tomadas pelo medo, e a chegada da
Primavera apenas significava que se aproximava o detestado Verão.
Havia o
frio, a sufocação, a indizível angústia de sentir a água penetrar por sob a
máscara, o pânico e o medo de desmaiar no momento em que os dedos estavam
apenas a alguns centímetros de um haliotis
e depois toda a espécie de acidentes e as feridas na ponta dos dedos dos pés,
quando, para subir de novo à superfície batiam, com eles no fundo do mar
atapetado de pedaços de conchas pontiagudos – e também a fadiga que se
apoderava de todo o corpo, em resultado de mergulhos forçados par lá de toda a
razão... Todas estas coisas se iam gravando cada vez mais profundamente na
memória e os receios multiplicavam-se com a repetição. Frequentemente, as
raparigas eram acordadas por pesadelos súbitos no mais profundo do sono,
pesadelos que não deixavam qualquer lugar par os sonhos bons. Acontecia muitas vezes
que, em plena noite, no seu leito pacífico banhado de escuridão, tentavam olhar
o mundo através das palmas das mãos crispadas sobre a face onde abundava o
suor.
O mesmo
não se passava com as mergulhadoras mais idosas, com as que já tinham marido.
Ao saírem da água depois de um mergulho, cantavam, riam, tagarelavam em voz
alta e forte. Dir-se-ia que, para elas, não havia diferença entre trabalho e
divertimento. As raparigas olhavam-nas cheias de inveja e ficavam a cismar que
nunca conseguiriam fazer algo de parecido; contudo, com os anos, descobriam,
surpresas, que, sem darem por isso, haviam já chegado a um ponto em que podiam
integrar o grupo de alegres mergulhadoras consumadas.
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