LAS COLUMNAS DE FUEGO
DEL MARQUÉS DE SADE -Imagem
encontrada em www.clarin.com
|
Coimbra, 25 de Maio – O Marquês de Sade. Um calafrio que só as leituras proibidas dão. A gente volta cada página arrepiado, com a sensação de que está a meter a alma no Inferno. E é essa inquietação que todos os livros deviam provocar. Uma incerteza, um pavor crescente, um medo de cada vírgula. A segurança burguesa de que as suas leituras foram previamente policiadas, e de que tudo o que soletra é castílhico, canónico, arcádico, só pode degradar o espírito. O homem necessita do pecado para viver, como de especiarias para comer. Julgo mesmo que o futuro se esforçará por contrariar cada vez mais a sonolência beócia das páginas cor-de-rosa. Em lugar de pudins, livros com dinamite dentro.
Sade. Nunca lhe tinha posto a vista
em cima, e li-o com a emoção dum garoto que está a roubar pêras num quintal.
Quanto à pornografia, há comunicados oficiais piores.
In «Diário (5.º volume)», de Miguel Torga, edição de autor,
Coimbra, 1974 (3.ª edição, revista).
Sem comentários:
Enviar um comentário