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(Futuro: a Censura não deixou publicar
estes versos
n’«O Diabo».)
Posso
lá compreender os teus olhos resignados
com qualquer
mecânica de Primavera!
Eu
que estou farto das canções vazias dos pássaros
e dos
montes de pedras
que já
ninguém sabe quem criou
neste
enredo da preguiça das árvores
a
repetirem sonâmbulas
a
herança azul
do
primeiro caos da criação.
Eu
que quero outra luz,
outro
sol,
outra
morte,
neste
planeta de cadáveres
enfurecido
de flores.
Eu
que só choro diante das paisagens
quando
me lembro que por dentro das pedras
corre,
negro e escondido,
o
sangue humano de todos os fuzilados.
A
Primavera queremos nós criá-la.
Nós,
os homens.
In «Poeta
militante – Viagem do Século Vinte em mim» (1.º volume), obra poética completa
de José Gomes Ferreira, colecção «Círculo de Poesia», Moraes Editores, Lisboa,
Outubro de 1977 (1.ª edição).
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