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(Outro poema
cortado pela Censura. Na
«Seara Nova».
A «serenata cínica» para o
Edmundo
Bettencourt cantar. O querido
Edmundo,
magro como um grito.)
Menino
que vais na rua,
não cantes
nem chores: berra.
Cospe
no céu e na lua
e aprende
a pisar a terra.
Aprende
a pisar o mundo.
Deixa
a lua aos violinos
dos olhos
dos vagabundos
e dos
poetas caninos.
Aprende
a pisar a vida.
Deixa
a lua às costureiras
–
pobre moeda caída
de quem
não tem algibeiras.
Aprende
a pisar no chão
o silêncio
do luar
sem sentir
no coração
outras
pedras a gritar.
Pisa
a lua sem remorsos,
estatelada
no solo…
Não
hesites! Quebra os ossos
dessa
criança de colo.
Pisa-a,
frio, com coragem,
sem olhos
de serenata:
que isso que vês na paisagem
não é
ouro nem prata.
Menino
que vais na rua,
não chores,
nem cantes: berra
ou
então salta prá lua
e
mija de lá na terra.
In «Poeta
militante – Viagem do Século Vinte em mim» (1.º volume), obra poética completa
de José Gomes Ferreira, colecção «Círculo de Poesia», Moraes Editores, Lisboa,
Outubro de 1977 (1.ª edição).
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