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Coimbra, 7 de Novembro – Mais um livro. Mais um teimoso esforço para romper
caminho nesta noite absurda que rodeia tudo. Azarento como sou, em vez duma
época luminosa e fecunda coube-me a escuridão dum poço de onde tento sair a todo
o pano. Sísifo, como toda a gente, mas convencido de que há-de ser transitória
a actual condenação do homem, empurro a pedra sem acreditar no mito. Pode lá
ser verdade este neo-romantismo sem esperança, só tédio e angústia, agónico na
forma e no conteúdo!
Não! Embora marcado pelo meu tempo,
e solidário com as suas dores, creio firmemente que o futuro há-de sanear esta
podridão. E cá ando com todas as minhas forças à espera do dia de amanhã.In «Diário (5.º volume)», de Miguel Torga, edição de autor, Coimbra, 1974 (3.ª edição, revista).
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