Imagem retirada de http://docecomoachuva.blogspot.pt/
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Sem insistir em paralelos ou
aproximações que são sempre excessivos, há um lado goyesco na imaginação de
Carlos de Oliveira, mas de um goyesco sem sátira, nem verdadeiro grotesco. Não
é temerário afirmar que o lado orgânico da existência, sobretudo o das formas
tradicionalmente repulsivas, digamos o lado pré-histórico da vida, apavora o poeta aparentemente
racionalista e optimista de Terra de
Harmonia.
Carlos de Oliveira escreveu, no
interior do horizonte neo-realista, a poesia mais embebida do horror físico e
metafísico da morte que aí se encontra. Mas superior a esse horror (e
fascinação) é o que se liga às «asas de morcego», às «toupeiras», aos «fetos»,
sem esquecer o seu aviário à Edgar Poe de mochos, de corvos, de águias fatais,
arsenal mítico dos seus pavores infantis transfigurados em lobisomens, em
bruxas, a que muito neo-romanticamente dá emprego e força na sua poesia e nos
seus romances.
In «Sentido e forma da poesia neo-realista», ensaio de Eduardo Lourenço,
Gradiva, Lisboa, Outubro de 2007 (1.ª edição).
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