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Uma traineira portuguesa, azul, enrola um bocado do Atlântico.
Bem ao longe, um ponto azul, mas eu estou lá – onde seis
homens a bordo não vêem que nós somos sete.
Assisti à construção de um barco destes, parecia um
alaúde enorme sem cordas
na ravina de pobreza: a aldeia onde lavam e lavam sem
parar, com fúria, paciência, melancolia.
A praia apinhada de gente. Era um comício que fora
dispersado, os altifalantes confiscados.
Soldados levaram o Mercedes do orador por entre a
multidão, apupos rufavam contra as chapas do veículo.
In «50 Poemas», de Tomas
Tranströmer (tradução do sueco por Alexandre Pastor, autor da nota introdutória
«Uma Voz Diferente» e das restantes notas; revisão de texto: Anabela Prates
Carvalho), Relógio D’Água Editores, Julho de 2012 (1.ª edição).
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