(Ao Fernando Piteira Santos
Ao
Jorge Borges de Macedo)
1
Em todos os portos do mundo
há sempre um velho marinheiro olhando olhando
íris esbranquiçada do sal do mar.
Em todos os portos há sempre um velho
marinheiro olhando
e perscrutando o que as ondas segredam.
Que sobre as ondas do largo mar não há mais
Paz
porque as tinge o sangue de corpos
estilhaçados
corpos por minas despedaçados
retesados e hirtos e inchados
boiando sobre as ondas num sonho de Paz…
E velhos marinheiros ouvem águas murmurar
a elegia dos gemidos de jovens marinheiros…
2
Velhos marinheiros da Holanda
inda que abrísseis todos os diques aos
inimigos
passariam porque estais traídos.
Velhos marinheiros da Holanda
fumando o cachimbo da Paz
olhando olhando com olhos pisados
sentindo a elegia e a morte dos vossos filhos
fora melhor morrer também
a ver as águas do mar da Guerra
onde bóiam corpos dos vossos filhos
cuja elegia tristemente as ondas levam…
In «Cantos
cativos – Poemas coligidos: 1938-58», de Arquimedes da Silva Santos, Colecção
Campo da Poesia (n.º 51), Campo das Letras, Porto, Maio de 2003 (1.ª edição).
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