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quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

LISBOA, poema de Tomas Tranströmer (Nobel da Literatura 2011)

Foto encontrada em http://cheaptrip.livejournal.com/

No bairro de Alfama os carros eléctricos amarelos chiavam nas subidas.
Ali havia duas prisões. Uma era para ladrões
que acenavam através das grades.
Gritavam, queriam ser fotografados.

“Mas aqui”, disse o guarda-freio com um risinho de hesitação,
“aqui estão os políticos.” Olhei para a fachada, a fachada, a fachada,
e no último andar, a uma janela, vi um homem
com um binóculo a olhar para o mar.

Roupa que fora lavada secava pendurada ao sol. As pedras dos muros estavam quentes.
As moscas liam cartas microscópicas**.
Seis anos mais tarde, perguntei a uma senhora de Lisboa:
“Aquilo era mesmo verdade ou fui eu que sonhei?”

** Alusão humorística à censura da PIDE.


In «50 Poemas», de Tomas Tranströmer (tradução do sueco por Alexandre Pastor, autor da nota introdutória «Uma Voz Diferente» e das restantes notas; revisão de texto: Anabela Prates Carvalho), Relógio D’Água Editores, Julho de 2012 (1.ª edição).

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