Foto
encontrada em http://cheaptrip.livejournal.com/
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No bairro de Alfama os carros eléctricos amarelos chiavam nas subidas.
Ali havia duas prisões. Uma era para ladrões
que acenavam através das grades.
Gritavam, queriam ser fotografados.
“Mas aqui”, disse o guarda-freio com um risinho de
hesitação,
“aqui estão os políticos.” Olhei para a fachada, a
fachada, a fachada,
e no último andar, a uma janela, vi um homem
com um binóculo a olhar para o mar.
Roupa que fora lavada secava pendurada ao sol. As pedras
dos muros estavam quentes.
As moscas liam cartas microscópicas**.
Seis anos mais tarde, perguntei a uma senhora de Lisboa:
“Aquilo era mesmo verdade ou fui eu que sonhei?”
** Alusão humorística à censura da PIDE.
In «50 Poemas», de Tomas
Tranströmer (tradução do sueco por Alexandre Pastor, autor da nota introdutória
«Uma Voz Diferente» e das restantes notas; revisão de texto: Anabela Prates
Carvalho), Relógio D’Água Editores, Julho de 2012 (1.ª edição).
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