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Folheada, a
folha de um livro retoma
o lânguido e
vegetal da folha folha,
e um livro se
folheia ou se desfolha
como sob o
vento a árvores que o doa;
folheada, a
folha de um livro repete
fricativas e
labiais de ventos antigos,
e nada finge
vento em folha de árvore
melhor do que
vento em folha de livro.
Todavia a
folha, na árvore do livro,
mais do que
imita o vento, profere-o:
a palavra
nela urge a voz, que é vento,
ou ventania
varrendo o podre a zero.
*
Silencioso:
quer fechado ou aberto,
inclusive o
que grita dentro; anônimo:
só expõe o
lombo, posto na estante,
que apaga em
pardo todos os lombos;
modesto: só
se abre se alguém o abre,
e tanto o
oposto do quadro na parede,
aberto a vida
toda, quanto da música,
viva apenas
enquanto voam suas redes.
Mas apesar
disso e apesar de paciente
(deixa-se ler
onde queiram), severo:
exige que lhe
extraiam, o interroguem;
e jamais exala: fechado, mesmo aberto.
In «A educação pela pedra», de João Cabral de Melo Neto (posfácio de Carlos Mendes de Sousa), volume doze do Curso Breve de Literatura Brasileira (direcção de Abel Barros Baptista), Livros Cotovia, Lisboa, Abril de 2006 (1.ª edição).
In «A educação pela pedra», de João Cabral de Melo Neto (posfácio de Carlos Mendes de Sousa), volume doze do Curso Breve de Literatura Brasileira (direcção de Abel Barros Baptista), Livros Cotovia, Lisboa, Abril de 2006 (1.ª edição).
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