Fotografia de João
Cabral de Melo Neto, encontrada em http://arte1.band.uol.com.br/
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Os vazios do homem não sentem ao nada
do vazio
qualquer: do do casaco vazio,
do da saca
vazia (que não ficam de pé
quando os
vazios, ou o homem com vazios);
os vazios do
homem sentem a um cheio
de uma coisa que
inchasse já inchada;
ou ao que
deve sentir, quando cheia,
uma saca: todavia,
não qualquer saca.
Os vazios do
homem, esse vazio cheio,
não sentem ao
que uma saca de tijolos,
uma saca de
rebites; nem têm o pulso
que bate numa
de sementes, de ovos.
2
Os vazios do
homem, ainda que sintam
a uma
plenitude (gora mas presença)
contêm nadas,
contêm apenas vazios:
o que a
esponja, vazia quando plena;
incham do que
a esponja, de ar vazio,
e dela copiam
certamente a estrutura:
toda em
grutas ou em gotas de vazio,
postas em
cachos de bolha, de não-uva.
Esse cheio
vazio sente ao que uma saca
mas cheia de
esponjas cheias de vazio;
os vazios do
homem ou o vazio inchado:
ou o vazio
que inchou por estar vazio.
In «A educação pela pedra», de João Cabral de Melo Neto (posfácio de Carlos Mendes de Sousa), volume doze do Curso Breve de Literatura Brasileira (direcção de Abel Barros Baptista), Livros Cotovia, Lisboa, Abril de 2006 (1.ª edição).
In «A educação pela pedra», de João Cabral de Melo Neto (posfácio de Carlos Mendes de Sousa), volume doze do Curso Breve de Literatura Brasileira (direcção de Abel Barros Baptista), Livros Cotovia, Lisboa, Abril de 2006 (1.ª edição).
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