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segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

«OS VAZIOS DO HOMEM», poema de João Cabral de Melo Neto

 Fotografia de João Cabral de Melo Neto, encontrada em http://arte1.band.uol.com.br/

Os vazios do homem não sentem ao nada
do vazio qualquer: do do casaco vazio,
do da saca vazia (que não ficam de pé
quando os vazios, ou o homem com vazios);
os vazios do homem sentem a um cheio
de uma coisa que inchasse já inchada;
ou ao que deve sentir, quando cheia,
uma saca: todavia, não qualquer saca.
Os vazios do homem, esse vazio cheio,
não sentem ao que uma saca de tijolos,
uma saca de rebites; nem têm o pulso
que bate numa de sementes, de ovos.


2

Os vazios do homem, ainda que sintam
a uma plenitude (gora mas presença)
contêm nadas, contêm apenas vazios:
o que a esponja, vazia quando plena;
incham do que a esponja, de ar vazio,
e dela copiam certamente a estrutura:
toda em grutas ou em gotas de vazio,
postas em cachos de bolha, de não-uva.
Esse cheio vazio sente ao que uma saca
mas cheia de esponjas cheias de vazio;
os vazios do homem ou o vazio inchado:
ou o vazio que inchou por estar vazio.

In «A educação pela pedra», de João Cabral de Melo Neto (posfácio de Carlos Mendes de Sousa), volume doze do Curso Breve de Literatura Brasileira (direcção de Abel Barros Baptista), Livros Cotovia, Lisboa, Abril de 2006 (1.ª edição).

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