Imagem
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Aquele que quer recordar e consigo traz a escuridão tem de estar à beira de si mesmo como se estivesse à beira de um poço,
é
aí que tem de estar, debruçado sobre o poço, com uma pedra na mão,
interrogando-se
sobre o que esconde o poço, a sua profundidade, e até onde a luz penetra,
tem
de, para calcular a escuridão do poço, atirar a pedra e vê-la lentamente cair,
pensativo, como que suspenso no vazio até a perder de vista
e
continua à espera, à beira de si mesmo, bem debruçado até a
pedra
atingir a superfície ainda imperceptível
e
aquele que quer recorder vê subitamente brilhar a profundidade, vê-a a atrair a
luz, ganhar vida como quando uma pálpebra se ergue. Então ele é reconhecido
pelo olhar do fundo.
Nasceu
uma imagem.
In «Coração de papel»,
de Lasse Söderberg (seminário de tradução colectiva Poetas em Mateus,
Abril-Maio de 1998: Ana Luísa Amaral, Egito Gonçalves, Fernando Amaro, Fernando
Pinto do Amaral, Gonçalo Vilas-Boas, Malin Löfgren, Manuel António Pina, Miguel
Serras Pereira, Pedro Mexia, Rosa Alice Branco; com revisão de Ana Luísa Amaral
e Gonçalo Vilas-Boas; e nota biobibliográfica de Gonçalo Vilas-Boas), Quetzal
Editores, Lisboa, 2001 (1.ª edição).
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