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segunda-feira, 21 de abril de 2014

«SEMENTEIRA», poema de Mia Couto

Pintura «Caminho de Flores», de Lars de Goor
(imagem encontrada em http://marinabaitello.wordpress.com/)

O poeta
faz agricultura às avessas:
numa única semente
planta a terra inteira.

Com lâmina de enxada
a palavra fere o tempo:
decepa o cordão umbilical
do que pode ser um chão nascente.

No final da lavoura
o poeta não tem conta para fechar:
ele só possui
o que não se pode colher.

Afinal,
Não era a palavra que lha faltava.

Era a vida que ele, nele, desconhecia.


«tradutor de chuvas» (poesia), de Mia Couto, Editorial Caminho (grupo Leya), Alfragide, Julho de 2013 (2.ª edição).

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