Imagem
encontrada em http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha
|
Poe deixou
West Point sem se formar e começou a
desastrosa batalha da vida. Em 1831, ele publicou um pequeno volume de poesias
que foi acolhido favoravelmente pelas revistas, mas que não era comprado. É a
eterna história do primeiro livro. O sr. Lowell, um crítico americano, diz que
há uma dessas peças, endereçada “à Helena”, “um perfume de ambrósia”, e que ela
não desmereceria a Antologia grega. É verdade que, pelo seu ritmo harmonioso e
as suas rimas sonoras, cinco versos, dois masculinos e três femininos, ela
lembra as felizes tentativas do romantismo francês. Mas vê-se que Edgar Allan
Poe estava ainda bem longe do seu excêntrico e fulgurante destino literário.
Não
obstante, o infeliz escrevia para os jornais, compilava e traduzia para as
editoras, fazia artigos brilhantes e contos para as revistas. Os editores
publicavam-nos de boa vontade, mas pagavam tão mal ao jovem que ele caiu na
miséria. Ele desceu mesmo tão baixo que pôde ouvir “gritar os gonzos das portas
da morte”. Um dia, um jornal de Baltimore propôs dois prémios para o melhor
poema e o melhor conto em prosa. Um comité de literatos, do qual fazia parte o
sr. John Kennedy, foi encarregado de julgar as produções. Entretanto, eles não
se ocupavam de lê-las; a menção dos seus nomes era tudo o que lhe se pedia ao
editor. Enquanto conversavam de uma coisa ou outra, um deles foi atraído por um
manuscrito que se distinguia pela beleza, limpeza e nitidez dos caracteres. Ao
fim de sua vida, Edgar Allan Poe possuía ainda uma escrita incomparavelmente
bela. O sr. Kennedy leu uma página apenas e, tendo sido tocado pelo estilo, leu
a composição em voz alta. O comité votou o prémio por aclamação ao primeiro dos
génios que soube escrever legivelmente. O envelope secreto foi aberto e surgiu
o nome, então desconhecido, de Poe.
O editor
falou do jovem autor ao sr. Kennedy em termos que lhe deram vontade de
conhecê-lo. A fortuna cruel havia dado a Poe a fisionomia clássica do poeta em
jejum. Havia-o caracterizado tão bem quanto possível para o empregado. O sr.
Kennedy contou que encontrou um jovem que as privações tinham emagrecido como
um esqueleto, vestido com um redingote que estava, seguindo uma velha táctica
bem conhecida, abotoado até ao queixo, calças em farrapos, botas rasgadas
dentro das quais não havia evidentemente meias e, com tudo isso, um ar
desafiador, grandes maneiras e olhos ardentes de inteligência. Kennedy
falou-lhe como a um amigo. Poe abriu-lhe o coração, contou-lhe toda a sua
história, a sua ambição, os seus grandes projectos. Kennedy foi ao mais
premente, conduziu-o a uma loja de roupas e comprou-lhe o fato conveniente;
depois apresentou-lhe as pessoas certas.
Sem comentários:
Enviar um comentário