Imagem retirada de www.city.sendai.jp
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Já é um lugar-comum dizê-lo: a
paisagem de Matsushima é a mais formosa do Japão. Não é inferior às de Doteiko
e Seiko na China. O mar penetra a partir de sudeste numa baía de
aproximadamente três «ri» [um «ri» equivale a 3,92 km], transbordante como o
rio Sekiko da China. É impossível contar o número das ilhas: uma quase toca o
céu, outra apresenta-se estendida, a boca debaixo das ondas; aquela parece
desdobrar-se e, a mais afastada, divide-se em três; algumas, vistas da direita
parecem ser uma só e vistas do lado contrário multiplicam-se. Há umas que
parecem levar um menino às costas; outras é como se o levassem ao colo, algumas
parecem mulheres acariciando o seu filho ou o seu neto. O verde dos pinheiros é
sombrio e o vento salgado dobra sem cessar as suas ramagens, de maneira que as
suas linhas curvas parecem obra de um jardineiro. A cena tem a fascinação
misteriosa de um rosto formoso.
Imagem retirada de http://www.math.is.tohoku.ac.jp
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Dizem que esta paisagem foi criada
pelo Deus da Montanha, na época sagrada. Nem pincel de pintor, nem pena de
poeta podem descrever as maravilhas do céu.
In «O
caminho estreito para o longínquo Norte» (Oku
no Hosomichi), de Matsuo Bashô (numa versão de Jorge de Sousa Braga – que a
dedica à memória de Venceslau de Morais; com capa de João Bicker), Fenda
Edições, Lisboa, Julho de 1995 (2.ª edição).
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