Fotografia
encontrada em http://turma801-gurias.blogspot.pt/
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Podia
ser a névoa habitual da noite, os charcos cintilantes, o luar trazido por um
golpe de vento às trincheiras da Flandres, mas não era. Quando acordou mais
tarde num hospital de retaguarda, ensinaram-no a respirar de novo. Lentas
infiltrações de oxigénio num granito poroso, durante anos e anos, até à
imobilidade pulmonar das estátuas.
Hoje,
um dos seus filhos sobe ao terraço mais obscuro da cidade em que vive e olha o
passado com rancor. O sangue bate, gota a gota, na pedra hereditária dos
brônquios e ele sabe que é o mar contra os rochedos, a pulsação difícil das
algas ou dos soldados mortos nessa noite da Flandres.
As
imagens latentes, penso eu, porque sou eu o homem na armadilha do terraço
difuso, entrego-as às palavras como se entrega um filme aos sais da prata. Quer
dizer: numa pura suspensão de cristais, revelo a minha vida.
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