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terça-feira, 13 de setembro de 2016

DUNAS, de Carlos de Oliveira

Imagem encontrada em http://www.praiasalagoanas.com.br/

















Contar os grãos de areia destas dunas é o meu ofício actual. Nunca julguei que fossem tão parecidos, na pequenez imponderável, na cintilação de sal e oiro que me desgasta os olhos. O inventor de jogos meu amigo veio encontrar-me quase cego. Entre a névoa radiosa da praia mal o conheci. Falou com a exactidão de sempre:
«O que lhe falta é um microscópio. Arranje-o depressa, transforme os grãos imperceptíveis em grandes massas orográficas, em astros, e instala-se num deles. Analise os vales, as montanhas, aproveite a energia desse fulgor de vidro esmigalhado para enviar à Terra dados científicos seguros. Escolha depois uma sombra confortável e espere que os astronautas o acordem.»

In «Trabalho Poético», de Carlos de Oliveira, Livraria Sá da Costa Editora, Lisboa, 1998 (3.ª edição).

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