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Contar os grãos de areia destas dunas é o meu ofício actual. Nunca julguei que fossem tão parecidos, na pequenez imponderável, na cintilação de sal e oiro que me desgasta os olhos. O inventor de jogos meu amigo veio encontrar-me quase cego. Entre a névoa radiosa da praia mal o conheci. Falou com a exactidão de sempre:
«O que lhe falta é um microscópio. Arranje-o depressa,
transforme os grãos imperceptíveis em grandes massas orográficas, em astros, e
instala-se num deles. Analise os vales, as montanhas, aproveite a energia desse
fulgor de vidro esmigalhado para enviar à Terra dados científicos seguros.
Escolha depois uma sombra confortável e espere que os astronautas o acordem.»
In «Trabalho Poético», de Carlos de Oliveira,
Livraria Sá da Costa Editora, Lisboa, 1998 (3.ª edição).
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