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segunda-feira, 14 de novembro de 2016

O RIO, texto de Eugénio de Andrade

Fotografia encontrada em http://oscaminhosdaagra.blogspot.pt/

Chega ao fim, o rio. Vem de longe só para morrer às mãos das vagas. Chega extenuado, o caminho é longo, nem sempre fácil, embora se demore muita vez a contemplar as margens, ora escarpadas, ora em socalcos verdes, entre oiro e carmim. Na foz esperam-no as gaivotas, mas sobre os seus flancos, onde o céu é mais fértil, as garças cinzentas seguem-no de perto – não sei dizer qual destas aves prefere para companhia. O que ele mais ama, sobre isso não tenho dúvidas, são aqueles álamos frios das terras de Sória, onde as suas águas são delgadas e jovens. Os álamos e a música que neles há, quando os anjos lhes acariciam as folhas, que tremem à sua aproximação. É com eles na alma, que se verga por fim o rio às águas salgadas da sua última morada.

In «À sombra da memória», conjunto de textos (de diversos momentos) de Eugénio de Andrade (com posfácio de Gonçalo M. Tavares), Quasi Edições, Vila Nova de Famalicão, Biblioteca “Obra de Eugénio de Andrade”, Dezembro de 2008, (2.ª edição / 1.ª edição nas Quasi Edições).

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