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Imre Kertész - Prémio Nobel da Literatura 2002
(fotografia retirada de http://literalab.com)
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Se é verdade, como diz Camus, que
a felicidade é um dever, então, esta verdade só fará inteiro sentido se
concluirmos de modo claro em relação a
quem é um dever: nós mesmos, os nossos companheiros, Deus, por hipótese?
Fica por definir a qualidade da
felicidade. Se a tua ocupação – não, deixemo-nos de subentendidos –, se a
paixão da tua vida te leva a definir a condição humana, deves abrir o coração à
miséria total que reside neste estado; mas não podes ficar indiferente ao
movimento do teu lápis, à alegria da chamada criação. És um mentiroso, então?
Naturalmente; mas em qualquer grande aventura, aqui, vigora a ordem: deves
oferecer-te a ti mesmo, para que comam a tua carne, bebam o teu sangue… O pior
dos fins é uma espécie de desarranjo banal, ordinário: ele tudo desmente. Não
sair das luzes da festa – oh, o horror do aborrecimento: o aborrecimento é um
crime.
Se a tua existência não é
inacreditável, então, não vale a pena falar dela. (…)
In
«Um outro – Crónica de uma metamorfose», de Imre Kertész (com tradução do
húngaro de Ernesto Rodrigues), colecção «Grandes Narrativas» (n.º 434), Editorial
Presença, Lisboa, Junho de 2009 (1.ª edição).
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