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Contando
com as duas plaquettes que deixaram
de vir referidas na bibliografia, Angst
(2002) é o sétimo título que Luís Quintais (n. 1968) publica. E é com toda a
probabilidade o mais conseguido. Depois de uma fase breve – aquela que
corresponde aos dois livros de 1999: Umbria
e Lamento – em que pareceu evidente
certo risco de afasia, o autor reencontra o tom fluente de quem escreve com a
certeza de ter chegado depois. Exactamente: «Num mundo sem explicação,
escreverás / depois.»
Esse
distanciamento reflexivo permite superar a coacção da angústia: «Havia o verão,
o medo de um círculo / fechando-se em torno de nós. / Cada sentimento era
somente / a pobre descrição de uma / imagem. Descia a luz sobre nós, / e em nós
se repetia o rumor das cicadas, / o milagre das casas muradas / a toda a
possibilidade delinquente […] Havia o verão e as cicadas e o perigo / de nos
perdermos numa cidade hostil.»
Não
será excessivo afirmar que é nos poemas em prosa que o autor se liberta da
ganga da literatura, impondo uma dicção limpa de trejeitos citacionais. Mesmo
se Borges é o pretexto: «Que sonhos escondem estes olhos cerrados a toda a luz?
Dilatei o espaço, a ardósia sobre a qual o giz persegue a vida. Do pensamento
fui distraído por tudo o que julguei ver. Cumpra-se este gesto. Ver é andar
distraído como algum apócrifo autor está escrevendo […] É o arbítrio dos
homens. Não o arbítrio do pensamento. Uma rosa? Uma rosa virá quando pálpebras
se fecharem. Sonharei a cinza que recobre a imarcescível rosa. Afastarei o seu
véu. Poderei contar-vos depois o que a soberba rosa vos recusa.»
Na
terceira parte de Angst estão
reunidos alguns poemas de circunstância: dois reportam explicitamente ao 11 de
Setembro (um deles em clave justicialista); outro evoca Jonas Savimbi (herói
retrospectivo?); outro toma como móbil o ano de 1961 (ano mítico para todos os
naturais de Angola, como é o caso do autor). Escreve-se sempre contra o
esquecimento?
In «Aula de Poesia»,
série de textos breves de Eduardo Pitta (com revisão de Carlos Pinheiro),
Quetzal Editores, Lisboa, Janeiro de 2010 (1.ª edição).
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