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Naquele tempo falavas muito de perfeição,
da prosa dos versos irregulares
onde cantam os sentimentos irregulares.
Envelhecemos todos, tu, eu e a discussão,
agora lês saramagos & coisas assim
e eu já não fico a ouvir-te como antigamente
olhando as tuas pernas que subiam lentamente
até um sítio escuro dentro de mim.
O café agora é um banco, tu professora do
liceu;
Bob Dylan encheu-se de dinheiro, o Che
morreu.
Agora as tuas pernas são coisas úteis,
andantes,
e não caminhos por andar como dantes.
In «Poesia, Saudade da
Prosa – Uma antologia pessoal», de Manuel António Pina, Colecção «grãos de
pólen» (n.º 12), Assírio & Alvim, Lisboa, Maio de 2011 (1.ª edição).
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