Joaquim Namorado, por Mário Dionísio, óleo sobre tela |
Parece-me que encontro na serôdia «Poesia Necessária» talvez o seu mais sincero desabafo poético, no poema «A voz que me dita os versos»:
Sento-me à mesa e escrevo…
A voz que me dita os versos e tudo diz e cala
……………………………………………….
é a tua amiga a quem não vejo há tanto
e cuja presença me não esquece.
……………………………………………….
é do povo o canto e o choro que vem
do fundo desespero em que se move
……………………………………………….
– É a tua voz, coração do mundo,
a tua voz ansiosa, a tua voz vibrante,
a tua voz desesperada, a tua voz confiante.
Sejam meus versos a vogal precisa,
Bata no meu pulso o coração do mundo.
Talvez seja este o supremo poema do seu percurso, que de
«Aviso à Navegação», pela «Incomodidade» sempre achou a «Poesia Necessária».
Militantemente, tal um poeta-estandarte, e não seria acaso
o pseudónimo de Bandeira, aliás
palavra frequente em muitos poetas, foi alferes de uma nova luta, de algum modo
para o futuro (futurista, como o seu outro pseudónimo Álvaro, não de Campos, mas no versilibrismo informal como meio de
expressão do novo conteúdo).
Mas, não desdenhando a tradição de «cantigas de escárnio
e maldizer», atira assim sarcasticamente arremedos, numa algo surrealizante
«Viagem ao país dos nefelibatas».
In «Testemunho
de neo-realismos», de Arquimedes da Silva Santos, Livros Horizonte, Lisboa,
Abril de 2001 (1.ª edição).
Sem comentários:
Enviar um comentário