Joaquim Namorado – foto encontrada em http://gtbib-amrs.blogspot.pt
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Joaquim Namorado poeta neo-realista, ou abencerragem romântico?
Encarnação de poeta maldito, quando, na sua
juvenil «Invenção do Poeta», evoca ou se identifica com Judas e Caim?
Ou antes poeta revolucionário quando se assume
qual Prometeu moderno, em que o seu sangue é bandeira, como no poema de «A Guerra
e a Paz» que passo a ler:
Abafai meus gritos com mordaças,
maior será minha ânsia de gritá-los!
Amarrai meus pulsos com grilhões,
maior será minha ânsia de quebrá-los!
Rasgai a minha carne!
Triturai os meus ossos!
O meu sangue será minha bandeira
e meus ossos o cimento duma outra humanidade.
Que aqui ninguém se entrega
– isto é vencer ou morrer –
é na vida que se perde
que há mais ânsia de viver!
Talvez seja este o poema-grito que melhor revela o poeta
militante – o portador de nova chama, para uma «outra humanidade» - a
socialista.
Poeta de diversos registos, foi, entre os neo-realistas,
tal como o precursor Dias Lourenço, atento ao mundo do operariado,
designadamente, fabril. Leia-se, a confirmá-lo, incluída em «Aviso à
Navegação», a parte intitulada «Arquitectura», onde o poeta matemático,
epigrafando Cesário Verde, «Só sei desenho de compasso e esquadro», inclui
fábricas, máquinas, andaimes, sirenes, motores, condutores, operários de ganga,
numa intencionalidade não futurista mas realista, como que em contraponto ao
registo desse outro poeta neo-realista, como ele alentejano, o Manuel da
Fonseca, este vivenciando o campesinato e a vida provinciana, Joaquim Namorado
já exaltando, idealmente, o mundo do proletariado operário.
In «Testemunho
de neo-realismos», de Arquimedes da Silva Santos, Livros Horizonte, Lisboa,
Abril de 2001 (1.ª edição).
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