Em regra geral, que é necessário
para despertar um homem adormecido? É necessário um bom choque. Mas quando um
homem está profundamente adormecido, um único choque não é suficiente. Um longo
período de choques incessantes torna-se necessário. Por consequência, é preciso
alguém para administrar esses choques. Eu já disse que o homem desejoso de
despertar deve procurar o auxílio que se encarregará de o sacudir durante muito
tempo. Mas quem pode ele procurar, se toda a gente dorme? Ele procura alguém
que o desperte, mas esse também adormece em breve. Qual será a sua utilidade?
Quanto ao homem realmente capaz de se manter desperto, recusará provavelmente
perder o seu tempo a despertar os outros: pode ter trabalhos a fazer muito mais
interessantes.
Há também a possibilidade de
despertar por processos mecânicos. Pode usar-se um despertador. A desgraça quer
que nos habituemos, depressa demais, seja a que despertador for: deixamos de o
ouvir, muito simplesmente. São portanto necessários vários despertadores, com
campainhas diferentes. O homem deve literalmente rodear-se de despertadores que
o impeçam de dormir. E aqui surgem mais dificuldades. Os despertadores precisam
de corda; para lhes dar corda é preciso lembrar-se; para nos lembrarmos é
necessário acordar várias vezes. Mas eis o pior: um homem habitua-se a todos os
despertadores e, após um certo tempo, ainda dorme melhor. Por consequência, os
despertadores devem ser continuamente mudados, é necessário inventar constantemente
novos. Com o tempo, isto pode auxiliar um homem a acordar. Ora, há muito poucas
probabilidades de que ele faça todo esse trabalho de inventar, dar corda e
mudar todos esses despertadores por si próprio, sem auxílio exterior. É muito
mais provável que ao começar esse trabalho ele não tarde em adormecer e que,
durante o sono, sonhará que inventa despertadores, que lhes dá corda, que os
muda – e, como já disse, cada vez dormirá melhor.
In «O Despertar
dos Mágicos – Introdução ao Realismo Fantástico», de Louis Pauwels e Jacques
Bergier, tradução de Gina de Freitas, Livraria Bertrand, Lisboa, Março de 1980
(11.ª edição).
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