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Paul Éluard – Foto retirada
de cantarapeledelontra.blogspot.com |
Estou diante desta paisagem feminina
Como uma criança diante do fogo
Sorrindo vagamente de lágrimas nos
olhos
Perante esta paisagem onde tudo me
convulsiona
Onde espelhos se embaciam onde
espelhos se iluminam
Reflectindo dois corpos nus estação
contra estação
Tenho tantas razões para me perder
Nesta terra sem caminhos e neste céu
sem horizonte
Belas razões que ainda ontem ignorava
E nunca mais esquecerei
Belas chaves dos olhares chaves
filhas de si-mesmas
Diante desta paisagem cuja natureza
é minha
Diante do fogo o primeiro fogo
Boa razão dominante
Estrela identificada
E na terra e sob o céu fora do meu
coração e no meu coração
Segundo botão primeira folha verde
Que o mar cobre com as suas asas
E no fim de tudo o sol vindo de nós
Estou diante desta paisagem feminina
Como um ramo mergulhado no fogo.
24 de Novembro de 1946
In «Poemas de Amor e de Liberdade», de Paul Éluard
(escolhidos por Jacques Gaucheron e os seus amigos; tradução de Egito
Gonçalves), Campo das Letras, Porto, Maio de 2000 (1.ª edição).
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