«Acredite ou não,
eu nunca tive, não tenho, nem a poderia ambicionar, pois carreira literária é
para mim um conceito estranho, oposto à ideia que tenho da condição de
escritor. Quando vi o meu primeiro livro publicado, o choque que me causou foi
de que me metera onde ninguém me tinha chamado, que não era ali o meu lugar. E
durante muito tempo tive pelos escritores – eu não me considerava um deles –
grande respeito e admiração. Tinha-os por seres superiores, refinados, gente
que funcionava em alturas e ambientes que me atordoavam. Só desci à terra
quando comecei a privar com eles e dei conta de que eram de carne e osso. E
como todos os humanos, as mais das vezes de má carne e fraco osso.
De modo que
carreira literária não tive nem tenho. Vou escrevendo como o faço desde o
princípio, sem plano nem estratégia, pelo gosto que me dá, ora a ver se consigo
um romance, ou se é hora de me deitar a um conto, uma crónica. Tão simples como
isso.»
(J. Rentes de
Carvalho, em entrevista à revista «Somos Livros», Verão de 2015, Bertrand
Livreiros)
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