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Lisboa,
Dezembro de 1948
É
sempre um prazer ler os jovens poetas. Ao lado da inexperiência, quantas vezes
mesmo da ingenuidade, há quase sempre a contar com uma frescura e uma
espontaneidade tocantes, nas reacções às solicitações da vida e do meio. E
torna-se apaixonante verificar como a aventura poética se processa nestes seus
obscuros comparsas, em quem geralmente se deixa surpreender com maior
transparência.
Mas
esta sedução tem o seu reverso. A poesia não é apenas exposição de sentimentos
e ideias: é fundamentalmente a sua formulação literária. E, para tanto, tem o
poeta que lutar com a floresta das palavras, tem que vencer a resistência da
sua inércia, tem que as amoldar, que adaptá-las, por assim dizer, ao seu caso,
já que a aventura poética, tal como a experiência psicológica, não se repete e
é única para cada indivíduo, devendo, para que se lhe reconheça autenticidade,
corresponder-lhe uma expressão própria. É nesta luta com a matéria, neste
esforço operário, que o poeta realmente se forja, libertando-se das suas dores,
comovedoras sem dúvida pela sinceridade, mas em si mesmas insignificativas, e
afeiçoando a voz, para que o canto lhe saia nítido, pessoal e bem timbrado.
In
«Opiniões com Data», João José Cochofel, Obras Completas [de] João José
Cochofel, Editorial Caminho, Lisboa, Outubro de 1990.
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