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Um longo – imenso – adeus à noite passada!
A noite passada não tem despedida
e todavia, agora ou mais tarde, no tempo se esvai.
Ainda que a forca seja o destino
eu tudo daria para que a noite passada venha de novo
e a noite de hoje apenas seja o tempo de ontem.
E então esta noite seríamos dois a morar nesta casa
senhores de um segredo
que os olhos não podem não sabem não querem
esconder.
Ainda que os lábios os lábios não esmaguem
nos olhos luz tão intensa luz que o segredo oculto
não mais é segredo.
Os olhos despedem furtivos olhares ou demorados,
secretos sinais
que o silêncio consente guarda e entende.
Que importa o silêncio dos lábios cerrados
se olhos dizem revelam e contam
estórias e contos de escondidos segredos?
Aqueles que trocam e vendem segredos e escândalos,
dos lábios meus não hão-de ouvir uma só palavra.
Oh, lânguidos olhos!
E tu que recolhida estás, serena e calma nesse
discreto canto,
olha os meus olhos, olha e aprende
os segredos meus que escondem e dizem:
«Nesta noite que passa guarda para nós a noite
passada.
E que o tempo futuro para sempre seja como
ontem foi.
A manhã não queiras; não a deixes entrar.
Levanta-te e diz-lhe
que o dia não cabe nesta nossa casa, onde só a noite,
a noite passada, tem lugar cativo comigo e contigo.»
Ah! Maria, Mãe e Senhora de Todas as Graças!
Tu és a Mestra, a Fonte e a Água dos Poetas do
Mundo!
Toma a minha mão, na Tua a enleia e dá-me o Teu
consolo!
Sê o meu amparo!
Vem e ajuda-me e ensina-me a dizer
Um longo – imenso – adeus à noite passada.
In «O Imenso Adeus – Poemas Celtas do Amor», vários autores
(tradução e prefácio de José Domingos Morais), Colecção «Gato Maltês», Assírio
& Alvim, Lisboa, Fevereiro de 2004 (1.ª edição).
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